Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Deep Silent Complete

"Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridiculas...e nas palavras mais belas... Transformo-me todo em palavras." - José Luís Peixoto

Deep Silent Complete

"Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridiculas...e nas palavras mais belas... Transformo-me todo em palavras." - José Luís Peixoto

06
Nov09

Não lhes sei o nome.

Marco

Não lhes sei o nome mas sou capaz de arriscar alguns e por isso penso em Joana quando lembro aquele sorriso prisioneiro de um corpo desobediente e pergunto-me logo como viver num corpo desobediente sem fazer ideia de qualquer resposta minimamente decente e ainda assim a Joana incompreensivelmente feliz com a minha presença, tocando-me num desafio para o recreio, eu sem jeito, sem saber o que fazer, como reagir, não incomodado, esmagado, e logo a Joana corredor fora em direcção aos amigos que dentro de casa porque na rua aquela chuva pálida, sem vontade e por isso nada de pátio, eu de caderno na mão, fingindo escrever aquilo que não caberia em resmas inteiras de papel em branco, eu já a olhar o Jaime numa luta desigual, injusta, cruel, contra um iogurte natural, também ele prisioneiro de um corpo desobediente, miúdo, dez anos no máximo, um iogurte natural, lá fora a chuva pálida e eu a caminho da sala seguinte com uma palavra apenas na minha cabeça - dignidade, mais nada, os passos a desaparecerem bem por baixo dos pés, eu a escrever tremendos nadas ainda siderado pelo olhar fixo do Ricardo, tão directo, tão meigo, tão sereno, zero palavras apenas olhos - dignidade a repetir-se vezes sem conta, eu que à porta todo dores de cabeça, sinusites e outras maleitas dessa família, eu que só estava ali por causa de um simples anúncio, agora já na secção dos muito dependentes a imaginar como se contam os minutos daquela maneira, sem mais nada poder fazer ou dizer, apenas existir e estar ali, o Rui... um puto caramba, oito nove anos não mais, lá estou eu outra vez a escrever tremendos nadas, podia aqui ficar a esculpir as mais belas frases e por muito que me esforçasse, jamais conseguiria retratar a beleza daquelas pessoas todas, jamais faria jus à sua dignidade e talvez por isso, vou ficar-me por aqui, fechar um pouco os olhos e lá bem no fundo, desejar que aqueles corpos ganhem juízo de uma vez por todas e passem a ser mais obedientes aos seus donos que tanto merecem.

1 comentário

Comentar post

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2010
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2009
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2008
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2007
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2006
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D