Quanto o texto acabou.
Desisti de escrever no dia em que senti a caneta a tropeçar-me entre linhas e as letras a caírem-me ao chão, desamparadas, esmagadas ao peso da gravidade, transformadas em pedaços irreconhecíveis, ideias partidas, perdidas num tempo que me desapareceu e se tornou em nada e portanto sem partículas, sem ínfimas moléculas escondidas dentro de estranhas equações, tempo despido, envergonhado, tempo desperdiçado num olhar mentiroso, silenciado por esse desejo impossível de falar, amarrado às evidências, impotente, caminhando devagar numa rendição que sempre venceu, tremenda e orgulhosa, egoísta, certamente egoísta, vestida de branco incandescente, voando à força do vento, espalhando-se com ele e com ele levando as migalhas de palavras nunca ditas, os poemas mais perfeitos mascarados de frases de engano, retocados por sorrisos jogados ao desafio, qual fado já desde sempre escrito e cantado em escuras vielas onde perdidos de encontram para rituais de lamentação, chorando planos de eternidade em horas de boa disposição disfarçada, cínica e assim, claro, texto nenhum possível de se equilibrar em cima de finas linhas azuis escuras, ou se calhar lilazes, não as consigo ver bem, parecem-me ao mesmo tempo iguais e diferentes, tropeçam-me as palavras, caiem-me as letras e eu a vê-las cair, impotente, a assistir ao fim deste texto para sempre inacabado...