O Brasil.
Sei que a primeira sensação foi a de um escuro já esquecido, conformado com a sua condição, tremendo, esmagador, capaz de todos os segredos sem quem ninguém sequer desconfiasse, um escuro apenas contrariado em ocasiões muito especiais, fosse um carro sem direcção perdido na noite, fosse uma casa que de casa apenas o conceito, desafiando sempre os limites da pobreza e ainda assim repleta de pessoas habituadas ao nada como o tudo e até felizes por isso, tranquilas de tão distantes das exigências a que os sonhos sempre obrigam, transbordando coisas coisas coisas e mais coisas.
Não ter nada foi pela primeira vez verdade à frente dos meus olhos e aqui o nada escreve-se com todas as letras de todos os alfabetos e significa um vazio capaz de magoar, capaz de ferir, um vazio combatido apenas a sorrisos que nunca entendi muito bem se de simpatia, se de ironia perante o destino dos dias iguais aos outros num cenário onde o paraíso parece sempre tão próximo, tão palpável, tão real, a escapar-lhes como areia por entre os dedos, a fugir-lhes troçando deles em todos os minutos, dando sempre a ideia de estar reservado em exclusivo para nós, visitantes do regresso anunciado.
E regressei. Regressei ao Brasil que coube dentro das fotografias e que se pinta de um verde opaco, onde existem as praias encantadas, as pessoas inesquecíveis, os momentos que agora se repetem na minha memória saudosa, as aventuras, os lugares da perfeição, a vida em estado bruto. E revejo o pequeno Bartunis (nome inventado por mim), e encanto-me com o brilho daqueles olhos inocentes, fundos como a noite e apenas desejo que um dia possa realizar o sonho de ser o Cristiano Ronaldo e que a felicidade dele possa ser bem maior do que receber um ou dois reais em troca de um simples pacote de cajus.