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Deep Silent Complete

"Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridiculas...e nas palavras mais belas... Transformo-me todo em palavras." - José Luís Peixoto

Deep Silent Complete

"Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridiculas...e nas palavras mais belas... Transformo-me todo em palavras." - José Luís Peixoto

14
Mai08

O telefonema.

Marco
Naquele sucessivo ecoar de toques que mais pareciam as badaladas intermináveis de um relógio avariado nas seis da tarde seis da tarde seis da tarde seis da tarde seis da tarde seis da tarde um livro inteiro por desenhar – que os livros desenham-se com palavras, e apenas o nada, acompanhado do som de um motor parado, estacionado, esperando, esperando, e apenas o nada que eram aqueles toques sucessivos que muito bem poderiam ser pontos de interrogação, compassados, ou se calhar reticências, talvez reticências, não, ponto final... parágrafo.

Do outro lado talvez um olhar e se calhar um agora não me apetece ou talvez um é melhor não atender e daí as badaladas e tanta coisa a ser decidida naquela quantidade de segundos que se despedaçaram no chão tornando-se tempo perdido, tempo sem tempo para ser recuperado, ido, do outro lado uma escolha, se calhar um talvez seja melhor assim ou quem sabe um agora não é o momento certo como se isso dos momentos certos existisse, como se a vida tivesse uma hora marcada e tudo o resto fosse sala de espera onde uma pálida luz nos lembra da nossa precária existência.

O motor era calado, baixinho, sereno e no céu voava um vento livre, fresco enquanto cá em baixo um relógio avariado nas seis da tarde seis da tarde seis da tarde seis da tarde seis da tarde seis da tarde e as páginas limpas de texto, em branco, caladas, fechadas, arrumadas e o motor já não calado, acelerando, gritando estrada fora, clamando as palavras da incompreensão e deixando-as para trás, como um rasto de memórias que disso não passariam, vergadas, esmagadas ao peso das badaladas perdidas que nessa tarde haveriam de ecoar pela última vez.

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