27
Dez07
Naquela hora...
Marco
... seria capaz de jurar que um dia inteiro, dado o peso de cada minuto arrastado, eterno, tempo parado numa vida em suspenso por um momento que nunca mais. Pegou nas chaves do carro, desceu as escadas e fez-se à estrada sem destino, furando a noite quieta, sabendo que já nada o segurava ali, olhando as estrelas como se todas as perguntas às quais não consegue responder e conduziu até de manhã, envolto numa esperança que lhe fugia a cada instante. Naquela hora, pensou sempre nela, sabendo que depois, só lhe restava esquecer, durante todas as horas, durante todos os dias.... olhou o relógio todos os minutos. Rápidos, fugidios, traiçoeiros. Na cama apenas sono profundo, leito de inconsciência e a esperança a prendê-la àquela cadeira desconfortável, de madeira velha, tantas vezes ocupada por esperanças derradeiras, choros saudosos, orações desesperadas. Sabia que o tempo a correr, sabia do combinado, sabia de tudo e porque sabia de tudo, sabia que dali não sairia sem notícias, sem um gesto, um sopro de vida que a devolvesse aos dias, às horas que correm normais, sem aperto no peito, sem a tristeza de saber por perto a palavra fim e rir-se, irónica, traiçoeira, cruel. Naquela hora, chorou.
... apenas flashes. E a prisão. Todos os movimentos como se de ferro e o escuro, a prisão dentro de um corpo deitado, inerte. Vivo, mas inerte. E flashes, a consciência de que ela ali, a vontade de um vai embora, eu estou bem, vai ter com ele, não o faças esperar, não o percas, vai, e nada, a prisão, o escuro, o ferro mais rijo do que a vontade, e flashes, os dois, o ciúme incontrolável, a loucura, a vontade de morrer, flashes, os comprimidos, os dois juntos, como? os comprimidos, todos, o sono, o escuro. Naquela hora, arrependeu-se de tudo e desejou, simplesmente, desaparecer.