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Dez07
O Miguel.
Marco
Ao ver sem aviso o Nuno na televisão, lembrei-me logo do Miguel e em cada palavra do Nuno, o Miguel, aquele sorriso enorme que de tão grande mal lhe cabia no rosto, a vida no seu lado mais simples, mais feliz. Desde sempre me habituei a ver poucas vezes o Miguel, reencontros intervalados por longos meses ou mesmo anos de ausência porque a vida assim mesmo, feita de caminhos nem sempre paralelos, quase nunca cruzados, tantas vezes distantes. Vezes demais. Ainda assim, sempre que me via, o sorriso aberto, o abraço caloroso, o beijinho familiar. O Miguel nunca deixou de me dar um beijinho porque eu como família para ele, nós todos como família para ele e por isso um beijinho. Ao ver sem aviso o Nuno na televisão, lembrei-me do Miguel a contar-nos da carta de marinheiro e da vontade de se fazer ao mar numa tarde de Domingo em que nós no Estoril, ele por certo já muito mais longe, por certo já ao leme do destino que procurava sempre fintar, por certo a sorrir de tanta felicidade porque o Miguel era isso mesmo, a felicidade feita pessoa, ainda que mil problemas, chatices ou preocupações.
Tenho saudades do Miguel. Não acho justo que naquela manhã o seu coração tenha desistido da carta de marinheiro, levando-o para esse local onde barco nenhum pode chegar, longe demais para ser verdade, cruelmente longe. Tenho saudades daquele sorriso gigante, sonoro, genuíno. Daquele rosto de criança feliz com um brinquedo novo, daquela alegria contagiante, daquele abraço, daquele beijinho que tempo nenhum conseguiu esvaziar de significado. Ontem, ao ver sem aviso o Nuno na televisão, lembrei-me do Miguel e também da Bila, do Ricardo, da Filipa e do Henrique.
Até sempre Miguel.