20
Dez07
Quinta-feira.
Marco
Este monte de papéis à minha frente espera-me numa paciência quase maldosa, grita-me Marco Marco Marco e ao mesmo tempo fundos de investimento, depósitos a prazo, preços imbatíveis, produtos fantásticos e frescos, e tudo e tudo. Fazem-me lembrar aqueles problemas da primária que eu, por alguma razão que nunca descobri chamava de proglemas e recordo o quão difícil foi para mim habituar-me aos problemas com b, quase mais difícil do que resolvê-los, decifrá-los. E lembro-me do Hugo Rafael e das reguadas que levava por tudo e por nada e do Nuno Filipe, do Luís Evaristo e tantos outros.Lembro com uma saudade oceânica o concurso dos foguetões, desenhados milimetricamente em papel quadriculado e expostos na vitrina do pátio. Cada foguetão uma turma, cada quadradinho um x número de rifas vendidas e no fim, uma bola de futebol para o primeiro foguetão a levantar voo. Chovia sempre nos dias em que eram pintados quadradinhos e eu provavelmente teria jogo de basquetebol e comeria à pressa muitos dos cinquenta rebuçados Mouro que comprava com uma enorme moeda de vinte e cinco escudos no bar da escola.
Esse tempo passava tão mais devagar. As quintas-feiras podiam durar semanas inteiras e a chuva acabaria sempre por dar tréguas e eu teria tempo para levantar voo no foguetão vencedor, ainda com alguns rebuçados Mouro dentro dos bolsos não fosse dar-me a fome pelo caminho. Hoje as quintas-feiras são apenas umas quantas horas que passam a correr deixando-me aflito a olhar para estes papéis à minha frente, que me esperam numa paciência revoltante, como se isto de ter ideias fosse a mesma coisa do que combinar com o Migas escrever um texto sobre as quintas-feiras...