13
Nov07
Um ano depois.
Marco
Há uma fotografia colocada dentro de uma moldura castanha escura, em cima da cómoda, no meio de outras tantas molduras mais ou menos castanhas, que eu sempre me habituei a olhar quando passo nessa sala em Cascais, onde tu durante tantos dias, que meses, anos, a chegar, a passar, a sair, dormir, existir. Gosto sobretudo do teu ar feliz, de peito cheio, orgulhoso, no meio dos teus irmãos em Entre-os-Rios, já algo maduros mas todos de saúde, cheios de sorrisos, provavelmente por saberem que aquela fotografia para sempre e nela, vocês todos e as saudades e as histórias e as vidas que ali jamais conhecem a palavra fim.Sempre que algum dos teus irmãos partia, lembro-me de pegar nessa moldura para lhe conhecer o rosto e no meio deles todos, lá estavas tu com o teu ar feliz, de peito cheio, orgulhoso e eu orgulhoso de ti, dessa pose de actor de cinema que sempre tiveste, imortal no centro da fotografia, imortal, sempre eterno. Um ano depois, sempre que passo nessa sala em Cascais onde tu durante tantos dias, que meses, anos, pego nessa moldura castanha escura e detenho-me a olhar-te numa saudade insuportável, como se tempo nenhum tivesse passado, como se há horas eu a escrever a morte não te matou, só te levou, nem te levou, a morte nem te levou...
Hoje procuro-te nas estrelas, procuro-te nas memórias, procuro-te sempre, para tudo. Procuro-te dentro de mim, procuro-te nas palavras, procuro-te e encontro-te. Estás em cada pedaço do que sou, no que me tornei. Resulto de ti. Trago-te comigo, levo-te para todo o lado. Existes em mim. Tenho quase a certeza que se for agora a Cascais e pegar naquela fotografia, dentro da moldura castanha escura, também eu, também nós, todos lá, ao teu lado, com o nosso ar feliz, de peito cheio, orgulhosos, sabendo que ali para sempre, já que tempo nenhum jamais apagará o tamanho do nosso amor.