27
Set07
Dias de Outono.
Marco
A cor é diferente. Há nostalgia no ar. Melancolia. Acho que no Outono é sempre domingo, sempre fim de tarde, nunca já noite, fim de tarde, e faz algum frio, o primeiro frio já frio, não apenas brisa, frio, visto de uma janela, sim o Outono é atrás de uma janela, cheio de ruas vazias ou quase – quem lá anda corre de certeza para a janela, e apetece não apetecer, deixar simplesmente que anoiteça a noite que nunca chega.A cor deve ser ali entre um laranja e o rosa, no meio delas, pintada de fresco, salpicada de pintas castanhas em forma de folhas caídas. Cheira a castanhas assadas e pensando bem, a cor está perto do amarelo das páginas amarelas. As pontas dos dedos, sujas. O Outono caminha sempre para o fim, começa logo no último dia e é sempre último dia. Tocam músicas suaves, como finos fios de magia que nos atravessam, contagiam.
A nostalgia são palavras. A melancolia são palavras. Poemas. Sentimentos. No Outono caímos fundo dentro de nós, estatelados numa existência que volta a ser, é um regresso. Um regresso eterno. Voltamos a ser. Recolhemos, chegamos finalmente, sentamo-nos numa cadeira, exaustos – fazia frio já frio na rua, e chegamo-nos perto da janela. Lá fora o mundo. Vazio. É fim de tarde, do último dia. O fim, perto. O início. A noite quase a chegar sem nunca chegar. Nunca chegar.