26
Set07
Pouca terra...
Marco
Paço de Arcos. Há quem não goste deste ruído, sempre repetido, mas eu prefiro encará-lo como um género de melodia que me acompanha nesta viagem que agora repito todos os dias. Caxias. É de manhã. Muito cedo. O rio está quieto, desconfio que ainda a dormir. Olhando mais além, é possível ver o Bugio e algumas barcaças na faina, rodeadas de gaivotas interesseiras. Cruz Quebrada. Aqui dentro as pessoas parecem-me zangadas. Não lhes descubro sorrisos. Encosto a minha cabeça à janela e detenho-me a contemplar a margem sul.Algés. Em Algés as portas abrem-se no lado oposto. Pergunto-me, porque razão? Sem resposta, volto a encostar o meu nariz ao vidro que logo se embacia com a minha respiração. Estou cansada, o tempo foge-me debaixo dos pés. Queria estar longe, podia até ser neste comboio cheio de melodia, mas longe, talvez no estrangeiro e toda eu de férias, com uma mochila às costas e uma máquina fotográfica a disparar cheia de vontade. Belém. Estás longe mas lembro-me de ti. Acho que tenho saudades tuas, apetecia-me dizer-te olá. Olá.
Alcântara. Ainda não percebi porque razão tanta gente sai nesta paragem. Parece que fogem, apressados. Encosto a cabeça ao banco ligeiramente descaída para a direita. De novo o rio com cara de poesia. Lindo. Fecho um pouco os olhos e deixo-me levar pelos sonhos que parecem distantes. Santos. Sinto-me a chegar. Levanto-me e coloco-me atrás das pessoas tristes, obrigadas, conformadas. O comboio abranda o seu ritmo, prepara-se para parar. Cais do Sodré. As portas abrem-se e eu sigo o meu caminho para o metro. Amanhã há mais.