25
Set07
10º B
Marco
As borbulhas não a deixavam ser aquilo que pretendia parecer ser. Dentro daquelas roupas negras, se calhar uma revolta muda a gritar tão ou mais alto do que a música que ouvia nos phones, numa passada apressada penso que provocada pelo frio desta manhã. Achei graça às riscas pretas e brancas das suas meias de zebra, às botas da tropa e sobretudo ao ar típico de que todos me devem e ninguém me paga. Entendi-a, só que as borbulhas trocam-lhe as voltas, dando-lhe um ar juvenil que revoltoso nenhum consegue suportar.Naquele instante, apeteceu-me estar a caminho da escola. Apeteceu-me aquela quase meia hora de caminhada até ao comboio cuja banda sonora eram cassetes de heavy metal e grunge, nem sempre muito bem gravadas – agora senti saudades das cassetes, mas cheias de atitude, tal como eu, dentro daquelas camisas de flanela aos quadrados à pescador com que na altura se vestia a revolta contra tudo e todos. Lembro-me das passadas rijas que dava com as minhas botas de montanha, convicto de que iria mudar o mundo.
A minha célula secreta era o Rainha Dona Amélia na Rua da Junqueira – hoje tristemente abandonado, e o meu exército o 10º B, uma turma verdadeiramente inesquecível composta só por rapazes e uma única rapariga, a Maria João. Nesse ano, quebraram-se todas as regras, fizeram-se trinta por uma linha. O mundo pertenceu-nos por inteiro e de certa forma, acho que o conseguimos mudar, dentro de nós. Hoje, nesta manhã fria, ao ver esta miúda a caminho da sua escola com pernas de zebra, estive por instantes a caminho do comboio sem que pessoa alguma me pudesse entender.