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Set07
Controlo remoto.
Marco
Às vezes é preciso dar assim uma pancada seca, de lado, e logo a imagem de novo, já sem indecisões, sem aquele quase quase que nunca mais, de novo colorida, nítida, estável. Um pouco como nós quando nos engasgamos, a tossir e tossir, vermelhos, suspensos sem ar, quase sem vida, sem vida, até que uma pancada seca nos devolva, nos traga de regresso às imagens comuns, já sintonizados com o futuro, ou mesmo com o presente, não interessa, interessa que sintonizados, prontos a continuar, prontos a existir.Outras vezes é preciso mais cuidado, é preciso perceber os botões, conhecê-los, desafiá-los, vencê-los. Mesmo que nada de imagem, não desistir, tentar de novo, experimentar novas combinações e um pouco mais de imagem, já quase fixa, e fixa, presa, por uns tempos, debaixo do botão com o seu número. E nesse gesto, um sorriso simples, de quem sabe poder ocupar melhor as horas intermináveis, na quietude de uma casa vazia, à espera de um futuro que de futuro, apenas inevitável e nada mais.
Continuar a existir, coisa difícil dentro de imagens fugidias, sem cor, à espera de uma pancada ou então de um cuidado especial, de alguém que perceba de botões e tenha paciência para se sentar a desafiá-los, lutando por sintonizar as cores que um dia se apagaram e as vozes que se deixaram de alegrias. Sim, porque às vezes, a vida como que foge, deve ser com o tempo, cheia de interferências, ali no quase quase, indecisa, engasgada consigo mesma, a tossir, suspensa, quase sem ar, quase sem vida.