29
Jun07
Cansado do tempo.
Marco
Sentou-se num banco de madeira, já envelhecido pelos anos e decidiu-se a esperar. Era verde, fora todo verde, agora só verde em algumas partes, outras nem tanto, já gasto de tantos esperadores, alguns ensonados, outros esfomeados, alguns impacientes, outros resistentes. No bolso, uma bucha de ontem, também ela velha, seca, rija. As suas roupas já cansadas do seu corpo, a rasgarem-se nos cantos para poderem fugir. Um dia...Era capaz de jurar que o mundo girava à volta daquele banco de jardim. Observava as pessoas a deslizar à sua frente, apressadas, umas com ar de aflitas, algumas a correr, todas esquecidas de si. Como que igual à estátua que se exibia, vigorosa, mesmo ao seu lado. Algum poeta, ou talvez um médico famoso que ali ficou, imponente, quase feliz, para sempre. Ele nada disso, apenas ele, à espera de coisa nenhuma, apenas ali.
O dia foi-se embora, as pessoas também e de repente apenas ele e o poeta, ou talvez médico. Olhou-o de frente, quis falar-lhe, perguntar-lhe se a sua espera compensara. Quis ter a certeza se sempre fora de pedra, porque não queria ficar assim, eterno, imóvel, primeiro branco e depois enegrecido pelo tempo. Quis perguntar-lhe se não se cansava de esperar, esperar, esperar, quis muito muito mas não conseguiu, vencido que foi pelo cansaço.