26
Jun07
Nas entrelinhas.
Marco
Tantas foram as linhas que aqui escrevi, tantas as palavras, os pensamentos e sentimentos, quem nem sequer me detive um minuto que fosse com as entrelinhas. Com esse pedaço de texto não escrito, capaz de tanto dizer através de letra nenhuma, apenas porque lá, subentendido nos espaços deixados em branco, livres de caligrafia, livres do peso da mensagem. No fundo, aquilo que se diz sem ser preciso dizer. Está lá, basta entender.É como que o cheiro do texto. O odor. Como que o outro lado do literal. O que está para além de. Lá mais à frente. Existe o sabor, o paladar, o gosto específico e depois, o aroma, a brisa que nos envolve, que nos encaminha e elucida. São as entrelinhas. Quantas vezes mais deliciosas, capazes de viver mesmo que longe de todas as letras e palavras, capazes de permanecer em nós, no fundo, a verdadeira essência da prosa.
Não é fácil ler nas entrelinhas. Nada fácil. É como que entrar no mais íntimo de todos os segredos do escritor, é ler-lhe a alma. Ele que se mascarou de parágrafos, disfarçou-se de poemas, ali, descodificado, transcrito, revelado. Pergunto-me: que aroma é o meu? Depois de tantas linhas que aqui escrevi, tantas palavras, pensamentos e sentimentos. Será que se percebe tudo o que aqui está para além de? Respondo-me: acho que sim. Está cá, basta entender.