18
Jun07
Sinais.
Marco
Chamo-lhe o poeta da rádio. Os seus sinais são também os meus, todas as manhãs antes que o dia me ocupe por completo e adeus tempo para pensar a vida assim, da forma mais simples, mais bela. Gostava de escrever as suas palavras, de ser capaz de sugar o mundo e recriá-lo dessa maneira única. Imagino-o de olhos bem abertos, atento a cada movimento por mais pequeno ou insignificante. Imagino-o depois a correr para o papel pronto a desenhar mais quadro feito de prosa.Os seus sinais andam por aí, flutuam no ar ao som de uma voz grave e compassada. Uma voz que a cada dia encontra algo de novo para dizer, com o entusiasmo da primeira vez. Uma voz que declama. Que exclama. Uma voz mascarada de imagens, nítidas, profundas, infinitas. É possível sonhar assim, logo de manhã, antes de ser dia outra vez, antes de acordar a sério, antes que o mundo se feche dentro de si, a contemplar o próprio umbigo como se a única maravilha possível.
Apetecia-me viver dentro dos sinais do Fernando Alves. Nem me importava que aquela música a toda a hora. Gostava sinceramente fazer parte dessas palavras, quem sabe ser uma delas. Gostava que os sinais de repente já não apenas sinais, mas a vida em si. Como um poema, uma prosa, uma história tornada bonita durante todo o tempo e não apenas naqueles minutos fugazes, ainda antes de ser dia mais uma vez, inevitavelmente. Quem sabe um dia? Quem sabe...