21
Mai07
O fim?
Marco
As palavras estão a calar-se. Estão a fechar-se, secretas, ou a fugir-me cobardes. Sinto-lhes o fim a cada dia que passa, inevitável. Já pouco me dizem, desinteressam-me, de tão vazias, tão distantes. Perderam a chama que lhes ardia na alma, incendiando cada frase, cada parágrafo. Secaram. Morreram. Deixaram de se escrever, tornaram-se pesadas, arrastadas. Forçadas. Transformam-se em ponto final, o último de todos, no fim de todas as histórias.As palavras são como as forças. Esgotam-se. Sinto-me de partida. Não tenho rumo nem planos. Apetece-me o silêncio. A leveza. A liberdade absoluta de simplesmente existir. As memórias continuarão a sê-lo, embora comigo, só comigo. O mundo continuará a girar e eu fascinado a observá-lo na primeira fila. Quero bebê-lo, vivê-lo. Quem sabe depois escrevê-lo. Quem sabe... Por agora, as palavras estão a calar-se. Pouco mais me resta para contar.
Não sei se me estou a despedir, não sei nada. As dúvidas consomem-me, assim como esta incerteza que parece ter tomado definitivamente conta de mim. Resta-me olhar para trás e ver o muito que disse, que escrevi. Muitas vezes nem me reconheço, questiono-me como foi possível aquele texto, como?... Talvez amanhã quando aqui chegar me apeteça escrever, escrever , escrever e me pergunte o porquê de ter feito este texto. Talvez...