02
Mai07
Lembranças...
Marco
Não faço ideia quantos carros terão passado naquela noite, por certo umas largas centenas, todos eles com pressa de fim de semana, se calhar cansados uns dos outros, sedentos de parar e descansar. Eu ali parado, a não reparar neles, embora consciente da sua passagem. Eu se calhar a desejá-los todos paralisados, sinónimo de um tempo suspenso, permitindo-me prolongar a felicidade que naquele momento percorria toda a minha existência. Durante a noite fica mais fácil pensar naquilo que de fácil muito pouco ou quase nada, nada mesmo. Talvez porque seja possível ver melhor, mais nítido, sobretudo mais focado, já que focado apenas no que interessa, sem distracções nem ilusões. A realidade aparece inteirinha, sem rodeios e faz-se sentir, firme, convicta, real. Neste momento, parece que estou a ver tudo ao não ver aquilo que mais queria ver. Por isso penso, tento recordar, faço contas e digo:
Não faço ideia quantos carros terão passado naquela noite, por certo umas largas centenas. Nessa altura como agora, tudo era nítido, eu pelo menos não tinha qualquer dúvida, mergulhado que estava num desses momentos de eternidade total. Podia ter durado toda a vida. Devia. Assim como deviam ter parado todos quantos passaram apressados rumo a um fim de semana que chegou muito mais rápido do que devia… já lá vão mais de duas semanas…