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Abr07
Amigas para sempre.
Marco
O seu jardim era porventura o mais belo de todo o bairro. Também o mais pequeno, mas isso não a chateava nada. Para ela, o mais importante era cuidar das poucas flores que lá cresciam viçosas e coloridas. Cada uma tinha o seu nome, a sua personalidade e todas as manhãs, lá estava ela de regador em punho a dar-lhes de beber ao mesmo tempo que mantinha animadas conversas particulares, sobre os mais variados temas. Era possível sentir-lhe a felicidade nesses momentos cúmplices. Eram as suas amigas, como lhes chamava. E gostava delas como tal. Gostava delas verdadeiramente, do fundo do seu coração. Nem sequer lhe fazia confusão ver outros jardins, maiores, com mais flores. Confusão, e muita, fazia-lhe ver algumas dessas flores deixadas ao abandono, quase murchas, quase mortas de tão esquecidas. Com certeza que não eram regadas nem escutadas. Eram apenas existências do passado deixadas ao abandono neste presente cruel. Para si, eram amizades perdidas no tempo.
Certo dia, uma das suas flores disse-lhe ao ouvido que ia para outro jardim. Circunstancias da vida. Algo de inevitável. O seu peito sentiu um aperto grande e os seus olhos queriam chorar. No entanto, a flor sorria-lhe. E à pergunta, porque sorris tu, respondeu-lhe, somos amigas lembras-te? a nossa amizade não acaba nunca! eu digo-te para onde vou e tu passas lá sempre que puderes com o teu regador, pode ser? quero continuar a ouvir as tuas histórias e nada entre nós vai mudar, certo? apenas vou estar noutro jardim, mas o meu coração estará sempre contigo!