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Abr07
Eu e o vento...
Marco
De repente ficou tarde. Olho para o relógio e pergunto-me como foi possível ter chegado a esta hora. Não sei onde se meteu o tempo, por onde ele passou. O espelho olha-me de ar sério. Fujo dele, não me apetecem olhares nem interrogações. Há pouca luz na noite. Ou pouca noite na luz. Apetece-me falar, mais do que escrever. Por isso estou a falar e não a escrever. Sou eu que estou aqui, nestas palavras tardias enquanto todos dormem e alguns sonham. Será que sonham?Invejo-os. Porque não durmo. Porque não sonho. Porque vivo na parte de dentro de uma realidade que por vezes me aperta demais. Estou demasiado acordado. A nitidez assusta-me, tenho vontade de fugir, de correr o mundo e descobri-lo ao mesmo tempo que o vento corre na rua, à procura de uma companhia que por certo não encontra. E grita, lamenta-se, chama por alguém que o abrace, que o aqueça. Também ele vê o tempo a passar por ele assim como ele passa por todo o lado. Sozinho.
Pergunto: o que será que existe para lá do pouco que vejo? Gostava de falar com todos os que agora dormem e sonham, felizes. Imagino-os de olhos fechados ao mesmo tempo esboçam um sorriso que desconhecem. Na impossibilidade de o fazer, vou calar estas palavras com que vos falo, vou apagar a pouca luz que me resta e passar por esse esconderijo secreto por onde fujo até amanhã. Ouço de novo o vento, veio despedir-se de mim. É que eu, melhor do que ninguém, conheço a sua linguagem...