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Abr07
O homem que fazia filmes.
Marco
Quando o telefone finalmente tocou ele já recebera o galardão máximo para melhor realizador, numa cerimónia simples sem passadeira vermelha nem gente cheia de nada mascarada de tudo, apenas ele naquele púlpito a agradecer aquela estatueta a público nenhum. Não levava qualquer discurso nem sequer agradeceu a ninguém em especial. Apenas um obrigado a todos e pouco mais. Talvez tivessem sido os nervos a impedi-lo de brilhar naquele momento tão especial para a sua carreira. O filme em si, uma história de encontros e desencontros, um guião mutante, camaleónico, capaz de mudanças bruscas, agora uma coisa, depois já outra, a seguir outra ainda, numa sucessão de cenários e realidades que convenceu os mais consagrados de todos os júris. Um história feita de visões, de possibilidades para um mesmo instante que ironicamente, escapava ao personagem principal. Uma verdadeira teia de construções de derrocadas mentais para uma verdade que tardava em aparecer.
Finda a cerimónia pegou em si mesmo e nem lhe apeteceu ir celebrar. Dirigiu-se para casa na companhia da sua estatueta, iluminado pelas luzes dos carros que se cruzavam com o seu. Era tarde quando chegou. Já passava da meia noite. Subiu os degraus das escadas e deixou-se cair na cama, cansado. Foi então que o telefone finalmente tocou. Depois de toda a noite. Atendeu. Fazia sentido. Finalmente a explicação lógica. Foi então que percebeu que o seu talento para o cinema era algo que devia levar mais a sério.