17
Abr07
O velho que baloiçava.
Marco
Sentado nesta velha cadeira de baloiço, leio o jornal que me trouxeram ao mesmo tempo que fumo este cachimbo do qual nunca me consegui separar. Uma vida inteira a puxá-lo para dentro de mim, como se fonte de juventude, como se o segredo para uma eternidade da qual não vou fazer parte. As notícias gritam-me em silêncio. Olho-as sem interesse. As fotografias de caras que desconheço parecem sempre iguais, também não me interessam. Estou longe. Muito longe.Sentado nesta velha cadeira de baloiço, deixo-me embalar num sono que me rouba horas de sol no meu rosto envelhecido de vida. Depois acordo, volto a pegar no jornal e rapidamente constato que nada mudou. Por mais que eu ande para a frente e para trás, para a frente e para trás, há coisas que nunca mudarão, qual destino, sempre tão irreversível, tão certo. Eu sei que se calhar sentado não vou a lado nenhum, mas será que vale a pena levantar-me? Estou longe. Muito longe.
Sentado nesta velha cadeira de baloiço, deixo-me levar pelas imagens de mim mesmo, lá longe onde estou agora, sentado numa velha cadeira de baloiço, com outra velha cadeira de baloiço a meu lado onde estarias tu a dizer-me coisas que se calhar eu nem ouvia. Mas estavas lá. Tinhas estado toda a vida. E que bem que eu me sinto, lá longe. Porque aqui, tudo o que me resta é este cachimbo que não me inspira grande coisa e um jornal cheio de noticias que me gritam, gritam, repleto de fotografias de pessoas que nada me dizem.