26
Mar07
Não vias tudo.
Marco
Nunca me conheceste, não soubeste quem eu era, apenas o que julgavas que vias, mas não vias, não vias tudo, vias só parte, o visível, a parte de fora daquilo que sou, por isso te digo que nunca me conheceste porque nunca viste tudo, apenas o que julgavas que vias, percebes? Conheces uma imagem de mim, apenas uma imagem de mim, incompleta, feita de gestos incompletos, palavras incompletas, passos incompletos. Conheces-me a meio caminho entre o que julgas que sou e o que sou de verdade.Tenho a certeza que neste momento não me sabes aqui, a escrever estas palavras todas, a pensar nisto tudo do que sou e do que julgas que sou, não me sabes, não me conheces nem nunca conheceste, se calhar julgas-me longe ou então nem sequer isso, eu completamente ausente de dentro de ti, esquecido a um canto, no canto onde me deixaste. Mas eu estou aqui e gosto de pensar nestas coisas, gosto de me interrogar, de ir ao fundo das questões, sou pouco dado às superfícies e às aparências.
Nunca me conheceste, não soubeste quem eu era, ficaste-te pela metade ou se calhar nem metade, apenas a pequena parte que se vê, o resto ficou comigo, estava (e está) tudo cá dentro, guardado para um dia, quem sabe, não sei, não faço qualquer ideia, logo se vê, não conheço o futuro, não sei o que me reserva, só sei que por agora, no momento em que despejo estas palavras, o presente é ausente, cheio de dúvidas e incertezas embora nada que retire a sensação de que nunca me conheceste, não soubeste quem eu era.