20
Mar07
Não sabe quase nada.
Marco
Bastava ter ido embora. Bastava ter pegado nas coisinhas, arrumá-las uma a uma e depois, muito fácil, chave na porta, elevador e aí vai ele em direcção ao seu carro, sabe-se lá para onde, também não interessa agora, vai à vida dele e depois logo se vê. Importante é que não foi porque não quis, preferiu ficar, firme, convicto da sua decisão e lá está ele, no sitio do costume, sentado ao computador, lutando pelas suas histórias sem abdicar de nenhum episódio.Há pessoas que nascem, vivem e morrem sem perceberem que viveram. Bastava ter ido embora. Bastava ter pegado nas coisinhas e pronto já estava mas, e depois? Sim, e se depois, anos mais tarde, depois de nascer de viver e de morrer, percebesse que afinal não tinha vivido? Sacana da frase, logo havia de saltar rádio fora... o homem até já estava na garagem, quase em casa e de repente, como um terramoto, há pessoas que nascem, vivem e morrem sem perceberem que viveram.
Importante é que não foi porque não quis, preferiu ficar. Não sabe se preferiu viver, não sabe quase nada, apenas que ir embora não, afinal não lhe bastava, assim como não lhe bastava ter pegado nas coisinhas, arrumá-las uma a uma e depois, muito fácil, chave na porta, elevador e aí vai ele em direcção ao seu carro. Não sabe se preferiu ficar, se preferiu viver, não sabe quase nada. Sabe apenas que há pessoas que nascem, vivem e morrem sem perceberem que viveram.