13
Fev07
Eu e o telefone.
Marco
O telefone deve ter qualquer coisa – que desconheço, contra mim. Não deve ir com a minha cara ou então deve achar que o trato mal. Sei lá, que nunca o desligo, que o deixo cair vezes demais – não faço de propósito, que me esqueço dele, que o sobrecarrego de mensagens. Qualquer coisa é de certeza, sendo que me falta descobrir o quê. Não acho que seja mau dono de todo, nunca o deixo ficar sem bateria ou sem dinheiro. Caramba, devia sentir-se importante!Mas não. Nada disso. Bem pelo contrário. Volta e meia, sem qualquer aviso prévio, decide pura e simplesmente não tocar. Nada. Como se isso fosse possível! É capaz de se aguentar assim uma noite inteira. Ali caladinho, em cima da mesa de cabeceira, nem toque de chamada, nem toque de sms. Apenas um enorme silêncio, que continuo a não entender. Pior, deixa-me dormir para depois, já pela manhã, me despertar com o seu som estridente. Gozão. Sou capaz de jurar que lhe descortino um sorriso irónico.
Hoje é uma dessas noites. Olho para ele e nada. Nem um toquezinho. Nada. Resta-me respeitar a sua vontade e ter esperança que só não toca porque de facto não pode. Deve ter com toda a certeza uma razão lógica e por isso nem me vou chatear com ele. Vou deixá-lo estar descansado, na sua. Mas entretanto a ver se aproveito para dormir cedo para amanhã de manhã ser eu o primeiro a acordar. Aqui entre nós, ele nem sonha o susto que lhe vou pregar. Amanhã, sou eu que o desperto!