09
Fev07
O tempo em bolas de sabão.
Marco
Olhava-as com aquele fascínio infantil, a subirem incertas, trémulas, frágeis até que puf e nada mais. Novo sopro e nova vaga trepando o ar do seu quarto, brilhantes, quase coloridas, de certeza divertidas. Primeiro apressadas, depois mais lentas até que novamente puf e nada mais. Passava assim minutos feitos horas. Não gostava que o interrompessem, muito menos que lhes pusessem termo mais rapidamente. Queria observá-las durante todos os segundos em que viviam.O tempo passou e ele nunca soube o segredo das bolas de sabão. Inclusivamente, esqueceu-se delas durante anos, mais preocupado em crescer e em viver a sua vida. Assim, os frasquinhos cilíndricos ficaram guardados, acumulando o pó dos anos que aconteceram. Alguns deles, tinham um pequeno jogo de esferazinhas metalizadas na sua tampa, com o qual se entretinha sempre que as bolas de sabão resolviam acabar. Sem que ele percebesse porquê.
Hoje, na hora de se escrever, subitamente, lembrou-se delas. Quase que as viu de novo a subirem, de novo incertas, de novo trémulas, de novo frágeis até que de novo puf e nada mais. Nesse momento, lembrou-se do tempo em que se sente verdadeiramente feliz. Lembrou-se de um sorriso com covinhas. Pequenos instantes mascarados de bolas de sabão, apressadas, brilhantes, divertidas, até que puf e nada mais. Cansado, desejou muito conhecer o seu segredo, farto que está das esferazinhas metalizadas.