07
Fev07
Olhares.
Marco
Imagens turvas. Um olhar turvo. Desfocado. A visão de repente mais curta, mais escassa. Um olhar menor, confuso. A realidade toda ela alterada, vista hoje de outra forma. Luzes inexistentes a brilhar, dentro de um olhar que se perde aos poucos, pedindo descanso, pedindo escuridão. Um olhar trémulo, já frágil, tão frágil. Perdido numa noite calada, sem sons que a pintem, que a polvilhem de vida. Uma noite em que o mundo por certo, decidiu parar.Fora destas paredes devem haver pessoas. Imagino-as nas suas vidas, dentro das paredes que as separam de mim. Fechadas nos seus mundos, também eles parados neste instante. Milhões de mundos parados. Desconhecem-me. Não sonham o meu olhar turvo, repleto de luzes. Nem sequer imaginam estas palavras que lhes dedico a saírem-me agora sem qualquer travão. Apenas existem viradas para si mesmas, dentro de sim mesmas.
Volto ao meu mundo e logo me ausento para longe. Paro no Alentejo, no lugar de Porto Covo. É este o som que me envolve. As imagens, essas, são mais antigas. Eu era novo, muito novo e sonhava ser rei dos matraquilhos. Queria fazer castelos na areia e no fim do dia tomar banho numa cascata que existia na praia. Está fresca a água que me escorre pelo espírito. Limpa-me o sal do mar, deixa-me como novo, tirando as luzes que se me acendem dentro dos olhos, turvando-me todas as imagens. Nesta noite.