19
Jan07
Um Verão que se apaga.
Marco
Havia espreguiçadeiras de cor laranja apontadas ao luar. A margem Sul do Tejo como testemunha de uma noite que prometia ser a primeira das suas vidas. Estávamos no início de Setembro, mas no íntimo de cada um, nascia uma primavera cheia de flores, de cheiros, de azul, de céu, de mundo, de tudo. Tudo. Estava tudo a nascer, a brotar, a explodir sem limites ou fronteiras. Apenas sonhos nem sequer sonhados, mas ali, realizados.Certos momentos fizeram-se para serem eternos. Infinitos. Aquele era um deles e foi assim que se gravou na memória dessas duas pessoas que ali, forradas a estrelas, se olharam pela primeira vez a uma distância de nada, vendo-se para além dos olhos, tocando-se pele na pele e rindo-se bem para lá de todo o riso. Como que escrito desde sempre. Como uma lei da terra, impossível de contrariar. Mais forte do que todas as correntes de todos os oceanos.
Hoje aquele mesmo espaço permanece vazio. Está lá na mesma a margem Sul do Tejo e em cada luz que se vislumbra deste lado, está uma pessoa na janela à procura deles. Na esperança de os ver de novo juntos. Foram-se as espreguiçadeiras de cor laranja apontadas ao luar. Foi-se até o próprio luar. Ficou um lugar. Só um lugar. Um lugar do nada. Apaga-se uma luz do outro lado do rio. E outra. Mais outra. Uma a uma até que, por fim, tudo escuro.