09
Jan07
Deslizando na noite.
Marco
Cheguei a pensar que não vinhas. Não que alguma vez tenhas deixado de vir, mas de repente dei comigo a olhar para o relógio e os minutos teimavam em fugir sem que de ti, um único sinal. No céu, como as badaladas de um relógio, os aviões partiam rumo a mil destinos que desconheço, mas que imagino perfeitos, lá longe, onde a minha vista não chega, onde a minha vida nunca aconteceu. Onde vidas e mais vidas acontecem sem que de mim, um único sinal.Cheguei a pensar que esta é uma estrada sem fim. Quase todos os dias a faço, mas hoje, as suas curvas sucedem-se lentamente. Não estou aqui. Talvez seja por isso. Eu não estou aqui a conduzir este carro. Vou provavelmente num dos aviões que vi passar como badaladas e viajo para longe, sem rumo, flutuando por cima do mundo com se este fosse uma pequena esfera azul e castanha repleta de nada. O que agora acontece lá em baixo já não me interessa. Sei que cá em cima, vou feliz a deslizar.
Cheguei a pensar que não vinhas. Agora que a noite é ainda mais noite, agora que hoje já é amanhã, confesso-te que cheguei a pensar que não vinhas. Aqui sentado no fim de todas as estradas, de volta à pequena esfera azul e castanha, esboço um sorriso, encosto a cabeça na almofada e deixo-me mergulhar nesse mar de sonhos que por mais sonhados que sejam, não conseguem nunca chegar perto da realidade de há momentos. A realidade que fica além de qualquer palavra que aqui possa escrever.
E eu, que cheguei a pensar que não vinhas...