28
Dez06
Tempo que não é tempo.
Marco
A noite. Escura. Longe de casa. Dentro de casa. Longe e dentro. O silêncio. O som de ninguém mascarado de nada. O som do não som. A casa quieta, suspensa. O tempo, lento. O tempo com tempo para passar. Sem pressa. Ele, só. Só ele e ele. Na casa. Quieto como a casa. Longe de casa. Dentro de casa. Longe e dentro. Longe, pelo infinito dos sonhos. Dentro, no sofá à espera dela. O tempo, lento. Tempo com tempo para passar.A porta. O som da campainha. Perto de casa. À porta de casa. O sobressalto. Os movimentos de alguém que espera alguém. O som do mundo que começa a girar dentro da casa. Rápido. Muito rápido. Um mundo que existe, inteiro, suspenso sobre a linha formada entre dois olhares que se cruzam para sempre. Num tempo que não é tempo, porque o tempo não é tempo quando estes dois olhares se cruzam, se focam, se prendem.
O tempo. O tempo que deixa de existir e porque deixa de existir, cai, unindo os dois momentos que aconteceram imediatamente antes e depois da sua queda. O antes e o depois, sem tempo para o durante. O durante que é tudo, mas porque é tudo não existe no tempo e não existindo no tempo passa rápido. Muito rápido. Tão rápido. A noite. Escura. Longe de casa. Dentro de casa. Longe e dentro. O silêncio. O som de ninguém mascarado de nada. O som do não som. O som da saudade.