21
Dez06
Ser cúmplice.
Marco
Houve um dia em que ele jurou a si mesmo: vou escrever. Escrever tudo. Vou escrever a minha vida, o que sou, o que penso, o que me acontece e o que faço acontecer. Vou pegar numa folha de papel e eternizar-me em letras e palavras que me escrevem mais a mim do que eu a elas. Vou tornar-me história, transformar-me em memórias que assim jamais poderão ser esquecidas ou apagadas. Vou passar a existir em todos os dias do presente e do passado.A partir desse momento, sempre que o sol se punha e os dias já mais não eram do que uma enorme sombra de si mesmos, sentava-se a uma mesa em silencio. Tentava lembrar-se do que acabara de viver, que episódios, que sentimentos, que peripécias. Passara a estar muito mais atento a si mesmo, como que registando tudo para depois tudo depositar naquelas que eram as suas palavras da sua vida. Literalmente.
Certa noite, ao chegar a casa, cansado depois de mais um dia de trabalho, sentou-se e começou a escrever. Queria escrever mais do que nunca. Queria escrever tudo o que sentia. Queria descrever-se cá fora como estava por dentro. Utilizou todas as palavras que sabia. Compôs o mais belo de todos os seus textos. Não pela beleza estética, mas por tudo o que significava para si. Quando acabou, suspirou, leu-se a si mesmo e sorriu. Dizia assim:
SER CÚMPLICE
Ser cúmplice...
Ser cúmplice é sorrir o mesmo sorriso
É chorar as mesmas lágrimas
É ver em conjunto
É sonhar a duplicar
Ser cúmplice...
Ser cúmplice é viver a partilhar
É olhar o mesmo luar
É sonhar o mesmo sonho
É escrever o mesmo conto
Ser cúmplice...
Ser cúmplice é falar sem falar
É fazer sem esperar
É amar, amar, amar
É gostar de simplesmente estar.