20
Dez06
Melodias silenciadas.
Marco
Todos os dias carrego comigo um cemitério que não me pesa nem assusta, repleto de pianos velhos e novos nas páginas de um livro que não escrevi, mas que gostava de ter escrito. Pelo talento, pela criatividade. Esse mérito é do José Luís Peixoto, um escritor que muito admiro por ter a capacidade de escrever aquilo que gostaria de ser capaz de escrever. Por dizer aquilo que eu gostaria de ser capaz de dizer, da maneira como eu gostaria de dizer. É bom sinal quando trago um livro comigo para todo o lado. Quando aproveito todos os tempos mortos para os fazer viver com as histórias que fervilham página após página. Correr atrás das letras e das palavras com a urgência de um saber que ainda não sei. Julgo que esse é o verdadeiro feitiço dos livros e neste momento posso dizer que estou envolto por essa magia que se revela aos bocadinhos.
Ironicamente, hoje de manhã, quando li Cemitério de Pianos pela enésima vez, senti-me bastante próximo deste título. Imaginei um piano, vários pianos alojados numa sala escura, longe de todas as vistas e pior, imaginei a quantidade de belas melodias ali presas, por tocar, por existir, quem sabe para sempre. Condenadas talvez a nunca existirem. Mas belas com toda a certeza. Provavelmente, as mais belas de todas as melodias.