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Dez06
Os berlindes de vidro.
Marco
Os sonhos são como os berlindes de vidro que uma criança carrega no seu bolso. Coloridos a mil cores, todos diferentes entre si, mas de vidro e por isso frágeis. Capazes de caírem todos juntos no chão ao mesmo tempo e dispersarem-se cruelmente. Capazes de se esconderem nos sítios mais complicados e depois, difíceis de procurar. Podem passar-se horas, dias, meses até anos sem aparecerem. As crianças têm muitos berlindes, sacos deles. Mas só carregam consigo aqueles que consideram mais importantes. Os que gostam mais ou que por alguma razão lhes são mais queridos. Muitas vezes exibem-nos com orgulho aos amigos mais chegados, outras vezes param durante instantes de tempo para os contemplar. Pegam neles, apontam-nos à luz e deleitam-se com a sua beleza infinita. E como são belos.
Ainda hoje gosto de coleccionar berlindes coloridos de vidro. Já por várias vezes se me romperam os bolsos e lá tive eu de ir à sua procura. Uns perderam-se para sempre, outros ficaram com pequenas falhas. No entanto, alguns permanecem intactos, belos em todo o seu esplendor. Gosto de os apontar à luz, de perder horas a contemplá-los. É para esses que vivo. Não quero perdê-los e por isso, se me permitem, agora vou guardá-los.