17
Nov06
O equilibrista.
Marco
Ninguém sabe ao certo se foi uma escolha consciente, se irreverência, se loucura ou mesmo paixão, mas a verdade é que todas as noites o equilibrista avançava convicto para a sua corda a quem chamavam de bamba. Pé ante pé, sem tremores ou dúvidas, ele aceitava o desafio de se desafiar nessa ténue linha entre o equilíbrio e a falta dele. E lá ia, devagar é certo, mas a andar, a caminhar, rumo ao outro lado, como se do outro lado tudo e deste lado nada.Ninguém sabe ao certo se era uma escolha consciente, se fazia parte do número, se medo ou mesmo loucura, mas a verdade é que todas as noites o equilibrista chegava a meio da corda a quem chamavam de bamba, parava uns instantes, e regressava para trás. Diziam que ele nada mais desejava do que o outro lado, o lado do tudo em vez do lado do nada. Diziam sempre que ele um dia lá chegaria, restava ver quando.
Certo dia, melhor, certa noite, supostamente mais uma noite igual à outras, noites de metade, noites incompletas, o equilibrista avançou novamente. Avançou mais convicto do que nunca. Seria finalmente o tudo em vez do nada? De repente, vinda precisamente desse lado, uma equilibrista avançou devagar sobre a bamba e encontrou-o bem no centro. O público congelou. O risco parecia total. Mas não. Nada disso. Deram as mãos, sorriram com cumplicidade e seguiram rumo ao tudo das suas vidas.