24
Out06
Ver no escuro.
Marco
Já vai longa a noite. A minha, pelo menos. Escrevo sem saber se estou a meio de um trabalho, se perto do fim. As ideias flutuam. A musica com elas, leve, angelical, perfeita. Vinda da Islândia. Frágil. Inocente. Doce. Uma descoberta recente que, segundo li, já não é tão recente quanto isso. Chamam-se Múm e recomendo vivamente a quem ainda não conhece. Vale a pena descobrir e viajar por estas paisagens sonoras. Que bonitas paisagens.Gosto de escrever na calada da noite. Não que seja especialmente nocturno, que nem sou. Gosto do dia, gosto do sol, gosto do azul do céu. Fascina-me o azul do céu. Gosto de observar as pessoas nas suas rotinas de todos os dias. Gosto de imaginar que atrás de cada uma, se esconde uma história feita de outras tantas histórias onde outras tantas pessoas existem também elas com a sua história feita de histórias e de pessoas e assim sucessivamente sem parar sem parar.
Mas a noite tem uma paz que não existe no dia. Quando o escuro me cerca, o silencio rebenta e sou como que invadido por um tsunami de reflexões. Faz sentido pensar na vida durante a noite. Somos só nós e ela, a vida. Sem interferências. Podemos questioná-la. Podemos ouvi-la e até interpelá-la. Podemos procurar as respostas que se escondem no meio do turbilhão diário. Irónico. O escuro da noite ilumina o pensamento. Faz com que vejamos mais à frente. Com mais nitidez. E agora, que a noite já vai longa, é tudo tão claro para mim.