23
Out06
Domingo cheio.
Marco
Eram mais ou menos três da tarde de hoje. Chovia a cântaros. Chovia com urgência. Chovia o mundo inteiro. Chovia toda a chuva que podia chover quando de repente, um raio de sol rompeu pelo cinzento quase negro do céu e iluminou uma tarde que parecia condenada à tristeza. Adeus tristeza. Adeus nostalgia. Adeus. Olá. Que saudades. Quantas saudades. Malvado tempo, que corre tão lento quando longe e tão rápido sempre que por perto. Não sei se voltou a chover. Não sei se fez sol. Não sei se era dia ou noite. Só sei que mergulhei num imenso mar de plenitude, onde cada gesto é total. Foi total. E único. De uma cumplicidade absoluta. E assim, como que por magia, um dia que parecia destinado a ser para esquecer, transforma-se e em duas horas passa a ser inesquecível. São as voltas da vida, sempre tão imprevisíveis. Sempre tão fascinantes.
Mas porque o tempo só é tempo porque passa e porque passou, foi tempo de ir embora. E logo as saudades! Foi tempo de mais uma visita. Foi tempo de voltar a chorar esse sofrimento que parece todos os dias conhecer novos limites. No entanto, vi-te em paz. Uma paz que me deu paz. Gostei de te olhar nos olhos. Gostei de saber que me viste. Gostei de te ouvir dizer o meu nome. Gostei de te dar a mão. Gostei de te beijar a testa. Gostei de te fazer uns quantos carinhos. E caramba, como gostava de ter resposta para a pergunta com que te despediste de mim. E agora, Marco, o que é que eu faço com a minha vida?