20
Out06
A luz dos dias.
Marco
Acordo. É mais um dia. Há uma luz, tímida, quase escura que busca a claridade de sim mesma. São assim os dias no seu começo, buscam-se a sim mesmos. Descobrem-se. Erguem-se. Passam a existir do nada que foi o escuro que foi a noite que por sua vez só o foi depois do tudo que foi o dia anterior. Ciclos que se cumprem. Vidas que se vivem. Anos que se passam. O tempo que é tempo por existir e por fazer existir quem passa por ele. Como um nevoeiro que dura toda a existência.Sorrio. É mais um dia. Há uma luz, forte, brilhante, total. Há luz dentro da luz que existe antes, dentro e depois de mim. Existo mais uma vez. Sou de novo eu. Lembro-me de ontem, lembro-me de ti. Olho. Penso. Penso que existo como ontem. Ontem, onde eras, onde estavas, onde foste, onde fomos. Hoje é tempo de hoje. E a luz, e o dia, mais um dia. São assim os dias cheios. Enchem-nos de significados, de sentidos, de adjectivos. Enchem-nos de vontade de mergulhar no tempo que nos aguarda.
Escrevo. Foi mais um dia. Não há nenhuma luz. Há o nada disfarçado de escuro. De noite. De vazio. Há o nada que existe depois do que existiu quando tudo era luz disfarçada de dia. Escrevo agora. Depois de tudo o que foi. Do que vi. Do que vivi. E vivi. E sorri. É o fim deste ciclo que se cumpriu. Sou capaz de dizer que vivi. Sou capaz de dizer que este pedaço de texto é o meu pedaço de mim depois deste pedaço de vida chamado hoje. É tempo do ponto final. É tempo de um novo parágrafo. Amanhã.
Acordo…