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Out06
Caixinha de ferramentas.
Marco
Quantas vezes as ferramentas para a felicidade não se disfarçam de coisas banais? Fundem-se no meio de nós, percorrem os mesmos caminhos, cruzam-se connosco, chamam-nos, gritam-nos e nós, nada. Cegos. Demasiado ocupados nessa busca interminável, a identificar as nossas pequenas e grandes infelicidades, a queixarmo-nos delas, lamentado esse terrível azar que não pára de nos prosseguir. Malvado destino.A vida não nos favorece, é certo. Exige de tal maneira de nós que muitas vezes não resta nem sequer tempo para existirmos. As tais personagens que defendo que somos. E somos. E temos de ser. E temos de alimentar. Mas muitas vezes, tantas vezes, nada. Vivemos em função de um relógio que não pára nunca, que nos aperta, que nos esmaga. Que nos exige e exige. Que nos empurra para onde não queremos estar. Tudo, em função da tal “qualidade de vida”.
Qualidade de vida. Belo conceito. Trabalhar tudo, viver nada. A carreira. O status. O ordenado. A promoção. Trabalhar ainda mais. Viver ainda menos. Tudo por ela. Pela qualidade de vida que virá um dia. E virá. Se esse dia chegar. E pelo caminho, esquecemos as tais ferramentas, que nos chamam, que nos gritam. E claro, sentimo-nos infelizes. Eu não quero isso. Já encontrei as minhas ferramentas e vos garanto, vou pôr mãos à obra. Posso não conseguir. Mas não posso não tentar.