Pernas para que vos quero.
É Verão e as palavras de férias, sim de férias, eu a chamá-las na repetição de um eco vazio e elas se calhar estendidas ao sol, metendo creme em pernas, cedilhas e acentos, elas cheias de fornicoques, todas aperaltadas em jantares de esplanada bebendo mojitos de morango, comendo ostras com limão, esquecidas de mim, coitado, aqui à luta com uma ou outra que aqui talvez por medo de voar ou fobia às filas de trânsito, eu reduzido a escassas frases de circunstância que em circunstância alguma um texto de jeito, despojos de linhas incompletas, ou então, de tão feias, metidas em casa à frente da televisão a dormir enquanto os ciclistas pingam mais umas gotas de suor, os ciclistas parecem-se a mim, pedalam pedalam como se o texto estivesse sempre lá no alto da montanha, transpiram que se fartam por tão pouca coisa, mas transpiram e assim eu, a dar ao pedal, quase sem palavras disponíveis - a esta hora as sacanas a mergulhar em mares tropicais, olha a palavra inveja por aqui, lá está, ninguém a leva a lado nenhum e por isso metida no meio desta salada, eu que nem sou muito saladeiro, faz-me confusão a alface e o tomate quentes de tocarem na comida e mais confusão ainda disputá-los com o resto da mesa quando metidos em saladeiras, ai esta timidez que me consome as vitaminas todas e o pedal cada vez mais pesado, chiça a montanha é alta que se farta, malditas palavras a banhos, apetece-me chamar-lhes nomes mas as asneiras todas de férias, tenho para aqui apenas a inveja e pouco mais, preciso de uns dias, uma semana talvez chegue, vou procurar o passaporte, vou ao encontro delas, palavras peçam-me aí umas travessas de ostras com MUITO limão, esperem por mim, estou só à procura do creme protector que isto de pedalar além de muito trabalho, dá uns escaldões que só eu e os ciclistas é que sabemos.