Barcelona.
Duas semanas já passadas, os dias todos contados, um por um, e eu com a certeza absoluta de ainda não ter regressado, eu aqui sentado a caminho do Másia, dentro da minha t-shirt dos Dinosaur Jr, a olhar as ruas num misto de fascínio e encantamento, a perceber o tamanho do mundo, a admirar-me com rostos, com expressões, com rotinas, a descobrir a grandeza dos detalhes, pormenores, delicadezas, a conversar com a Chila e a entender os porquês de cada recanto, a ficar detentor das respostas em vez das perguntas, eu a entrar no meu carro e a pensar no melhor caminho para a Carrer Entença, a ter a sensação de me ir perder no meio daqueles cruzamentos siameses, a meter a chave à porta perguntando-me se a Sofi ou a Riti em casa para dois dedos de conversa que depois eram sempre noites inteiras, as noites, os dias, dias todos contados, um por um, e eu com a certeza absoluta de ainda não ter regressado, eu de frigorífico aberto a olhar a salada já feita que irei meter dentro dos bocadilhos para mim e para o Camacho, Sant Pol de Mar espera-nos, esse sítio mágico onde a água é feita de finos cristais que juntos se rebentam contra os nossos pés, onde é crime grave o tempo passar tão depressa e por isso, logo logo a pessoa já no comboio, eu agora no comboio, colado à janela, impressionado com a velocidade das coisas, a pensar onde ir logo à noite, Rambla abaixo, Rambla acima, fintando as Estrellas cadentes que se me cruzam ao caminho, incessantes, sonhando acordado com um regresso que mais dia menos dia, vai ter mesmo de acontecer.