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Deep Silent Complete

"Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridiculas...e nas palavras mais belas... Transformo-me todo em palavras." - José Luís Peixoto

Deep Silent Complete

"Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridiculas...e nas palavras mais belas... Transformo-me todo em palavras." - José Luís Peixoto

06
Out08

Aos meus avós.

Marco

16:32h. Enquanto estendo ao comprido a marmelada numa destas tostas integrais que nos prometem mundos e fundos, quiçá a própria vida eterna, estou ao mesmo tempo na Estrada de Benfica e aproveito todos os minutos de tempo para brincar a tudo o que me lembro no pátio que existe nas traseiras da casa dos meus avós, antes que comece o Dartacão e a sua odisseia contra o Vidimer, Richelião, Milady e outros que tais, malfeitores sem vergonha, incapazes de um único gesto de nobreza, um pequeno sinal que liberte o meu herói para uns merecidos minutos de romance junto da sua amada Julieta.

É hora do lanche e sei que o meu avô vai buscar de propósito pão quente e sei também que no regresso, vai passá-lo à minha avó que por sua vez o vai encher de marmelada e servir-mo num tabuleiro redondo às bolinhas cor de laranja, juntamente com um copo de leite. Come-se marmelada nas casas dos avós. E existem sempre frascos com bolachas Maria no seu interior. Assim como rebuçados dentro uma porta onde normalmente também estão umas quantas garrafas de vinho do Porto que raramente se bebem. Dizem que é para ocasiões especiais que sabem vir a acontecer mais tarde ou mais cedo...

16:51h. Enquanto estendo ao comprido estas letras numa das folhas brancas que tantas vezes me servem de esconderijo, sinto o doce travo a marmelada e tenho a certeza que os meus contornos se desenharam nessas saudosas tardes de tempo inteiro, no meio daqueles abraços apertados que os netos sempre levam, debaixo daqueles beijos que na altura sempre queremos evitar. Sei também que hoje não chegarei a tempo para o Dartacão, pois estou demasiado ocupado a recordar como é fácil ser-se feliz, bastando para isso, um pouco de marmelada barrada em pão quente, já agora, servido num tabuleiro redondo às bolinhas cor de laranja.

PS: este texto só foi possível graças ao almoço de ontem com vocês os quatro, sim, porque comigo, andam sempre os quatro.

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