A terra dos regressos.
Ainda o Alentejo. Ainda a palavra imensidão a significar-se a si mesma, ainda nova, ainda por gastar tal como as cores e os cheiros, o Alentejo na sua quase inocência, belo dentro de uma pureza que é suave, meiga, calorosa, sorridente, ainda o Alentejo no seu estado puro, tremendo, castiço, cantando-se, sorrindo-se enquanto espera, espera se calhar que o tempo não lhe acerte, que o mundo continue assim, esquecido, distraído, preocupado com todos os nadas, distante, correndo apressado atrás da sua cauda, rodopiando à volta do vazio, procurando um tudo que nunca aparece, nunca aparecerá...
Ainda o Alentejo. Ainda as pessoas e a sua essência, ainda a simplicidade como se coisa comum, a simplicidade desarmante, as pessoas elas mesmas, as pessoas, capazes de gestos leves e palavras puras, encantadoras, as pessoas a significarem-se a elas mesmas, sem metáforas, sem eufemismos, sem qualquer figura de estilo, sem máscaras, as pessoas de braços abertos, as pessoas celebrando os minutos, as horas, os dias, saboreando cada pedaço de vida, aceitando-a numa paz de fazer inveja, apaixonantes, fascinantes, as pessoas como derradeiro significado da palavra beleza, inesquecíveis.
Ainda o Alentejo. Ainda o amanhecer feito paleta de cores, feito pintura de museu, obra-prima de um mestre esquecido, ainda as tardes de silêncio, enormes, tardes quentes de um tempo parado, tardes eternas que mergulham sem aviso num escuro de brilhantes, num escuro de pérolas suspensas no ar, vagueando em cima das almas que se estendem para elas, numa admiração horizontal, numa admiração de criança, num reencontro com os fascínios que não deveria nunca acabar, ou pensando melhor, que nunca acaba, ou não fosse o Alentejo a terra onde ninguém vai, mas onde toda a gente regressa. A si.