Zé Maria Pincel.
É longe o lugar onde me detenho, onde caminho tardes inteiras enquanto repouso ao lado de um tempo que me finta, passando apenas nas minhas distracções ou nas minhas ausências, quando decido aparecer e fingir-me de sorrisos, disfarçado de encantamentos, escondido dentro de partidas que me protegem de perguntas incómodas, que me afastam de respostas que conheço mas que não desejo pois prefiro-as para mim, na hora de regressar e regresso todos os dias, ao fim da noite, quando já não sobra estrela nenhuma para se despenhar dos céus do Alentejo.
A minha verdade é outra coisa que nem consigo explicar, conheço-me bem demais para tentar definir-lhe todos os contornos, é se calhar um género de grandeza ou talvez uma fé – eu que não sou nada dessas coisas, mas uma fé que significa convicção, uma convicção que são ideais e aqui pergunto: será que todos se esqueceram dos ideais? em que acreditam vocês? e lá está, é longe o lugar onde me detenho, pudesse eu e uma mochila nas minhas costas, mundo fora, à procura do lugar onde se despenham as estrelas, em busca dos olhares profundos – sinto falta dos olhares profundos, à redescoberta deste eu que tanto me chama.
Sou bem mais do que pareço, sou a vontade do vento e tal como ele, deixo-me deslizar, as correntes matam-me e o meu nome escreve-se da mesma maneira que liberdade, sou tudo aquilo em que acredito e acredito cada vez mais, na minha verdade, sonho-a com o lento passar das horas, os ideais – não se esqueçam dos ideais! o pensamento, a igualdade, a utopia, sim, como gostaria de um dia caminhar na rua e descobrir que nos olhares havia de novo aquela profundidade, aquele brilho de quem se detém horas sob as estrelas, as vê-las despenharem-se no infinito da imaginação. Até lá, vou sorrindo em vez de desistir.