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Deep Silent Complete

"Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridiculas...e nas palavras mais belas... Transformo-me todo em palavras." - José Luís Peixoto

Deep Silent Complete

"Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridiculas...e nas palavras mais belas... Transformo-me todo em palavras." - José Luís Peixoto

15
Mar07

Parabéns Pedro.

Marco
Existe uma parte de mim mesmo que vive noutra pessoa. Um pedaço grande, independente do meu corpo, mas meu corpo, minha alma, minha essência. Falo do meu querido irmão, uma extensão da minha presença neste mundo. Estou em cada um dos seus passos, no seu sorriso, nos seus gestos, nos seus olhos, na sua dor, no seu amor, na sua história, que é a minha, que é a nossa, um todo, todo ele indivisível, inquebrável. Uma vida só que são as nossas vidas.

Hoje parte de mim faz 33 anos. Sabes Pedro, não conheço as palavras para te dar os parabéns que te quero dar. Não conheço a forma de te mostrar o amor que te quero mostrar. Não conheço o segredo para te revelar a gratidão que te quero revelar. Tudo o que conheço é demasiado terreno, demasiado falível, demasiado humano, demasiado pequeno para a imensidão que corre dentro de mim quando penso em ti. É algo que me transcende e ultrapassa. É muito mais do que eu próprio.

Toda a vida me habituei a ver-te desbravar caminho. Sempre foste na frente para que eu depois pudesse passar em segurança. Nas grandes coisas e nas pequenas. Sei que te dói a minha dor assim como te alegra o meu sorriso. Sei que me vives como eu te vivo. Por isso hoje, alegra-te. Estou feliz, muito feliz, tão feliz. Simplesmente por te ter, por te saber meu para sempre, em qualquer situação. Somos um só. Um todo, todo ele indivisível, inquebrável. Só tenho pena de uma coisa. Tenho pena de não conhecer as palavras para escrever um texto que te fizesse justiça!
14
Mar07

Os tesourinhos.

Marco
Quando era miúdo fascinavam-me aqueles brinquedos que depois de aproximados à luz de uma qualquer lâmpada, adquiriam um tom fluorescente que se prolongava noite dentro. Gostava de os levar para a cama, como se fossem o meu tesourinho secreto e depois ficar a observá-los até que o sono me vencesse. Mas antes, imaginava histórias fantásticas de naves, aventuras intermináveis interrompidas apenas para que eu pudesse descansar.

Acho que toda a vida tive uma especial queda para terourinhos. Fosse nas histórias que lia, nos filmes que via ou mesmo nas brincadeiras de escola. O conceito do precioso sempre me cativou. A ideia de haver algo de muito valioso que um dia, por alguma razão, entraria na minha vida para lhe trazer um sentido maior, superior. Não que a vida seja vazia sem eles, nada disso. Trata-se antes de algo mágico, capaz de adicionar sorrisos a uma existência já de si, feliz.

Hoje, sentado aqui, envolto num mar de recordações, sei que os tesourinhos não são fáceis de encontrar. Serão uma espécie de privilégio que devemos saber segurar nas nossas mãos e preservar o melhor que conseguirmos. É essa a nossa obrigação. Detectá-los e guardá-los para todo o sempre. Sorrio. Parece que me estou a ver a aproximar os brinquedos do candeeiro do meu quarto e a correr para a cama. Pergunto-me. Onde os terei eu deixado?
13
Mar07

Happy Happy Helloween!

Marco
Lembro uma velha cassete que eu tinha, marca BASF, de 90 minutos. Lembro-me de colocá-la a tocar num rádio que tinha no cimo do armário que também fazia de secretaria onde eu fingia que estudava. Não me lembro da minha idade, mas sei que não ultrapassava os 8 ou 9 anos. A música em si, era qualquer coisa que já na altura me tirava do sério, como se tivesse sido composta exclusivamente a pensar no meu gosto. Falo dos alemães Helloween.

Hoje em dia, a música que essa velha cassete me apresentou é considerada unanimemente como um clássico do Heavy Metal do anos 80. Dois álbuns seminais – um de cada lado da cassete, chamados respectivamente Keeper of the Seven Keys I e II. O casamento perfeito da emoção, da rapidez e da melodia. A banda das abóboras chegou para me enfeitiçar e a verdade é que mais de 20 anos depois, esse elo mágico ainda não se quebrou.

Continuo a aguardar cada disco com essa ansiedade juvenil e inocente. Acompanho a carreira dos ex-membros, leio-lhes as notícias, vivo-lhes a musica. Não sei se é nostalgia pura, não sei se saudades do rádio no topo do armário, sinceramente não sei. O que sei é que apesar de todas as modas, cada vez que aquelas melodias ecoam nos meus ouvidos, o meu sorriso rasga-se e o encantamento acontece. Bendita cassete!
12
Mar07

As palavras que não escrevo.

Marco
Hoje apetecia-me chegar aqui, pegar nas palavras que me ocupam o pensamento e escrevê-las uma a uma, numa sequencia capaz de me deixar mais leve, mais solto, mais eu mesmo. As palavras por vezes podem ser muito pesadas, tremendamente exigentes, absorventes. Podem mesmo engolir uma pessoa, desviando-lhe o olhar de todo o mundo, focando-o dentro de si mesmo, para uma busca tão inglória como impossível.

São curiosas as palavras. Têm dias suaves, em que a sua presença é leve, deslizando como uma brisa fresca. Sabem até bem. Ficam fáceis de escrever, parecendo organizadas desde sempre, já prontas. Fazem lembrar a água limpa, fresca e cristalina de um rio, a correr célere, decidida. Outras vezes, como hoje, pesam, pesam. Estagnadas. Como que num pântano, paradas, sem rumo, apenas ali a existir, a esperar, decididas a nada dizer.

Acho que escrever é isto mesmo. Uma constante luta com as palavras que existem dentro de mim. Uma luta difícil, que nem sempre consigo vencer. Como hoje, nesta manhã, neste momento em que me apetecia chegar aqui e despejar tudo o que me vai na alma. Assim sendo, resta-me esperar por outro texto, outra história. Parece que já a estou a imaginar, correndo palavra a palavra.  Descendo até desaguar aqui mesmo, neste mar de palavras hoje, apenas paradas.
09
Mar07

A implosão.

Marco
You can’t forget what you can’t forget. Quer dizer, estava eu muito descansadinho, já manhã feita, a preparar-me para mais um sol a sol, inclusivamente já tinha decidido que ia escrever sobre uma coisa que afinal só vou escrever num qualquer outro dia porque hoje, de repente – tão descansadinho que eu estava, you can’t forget what you can’t forget assim, como um abanão, uma explosão, uma implosão.

Gosto da frase. A sua autoria Win Butler dos fabulosos Arcade Fire, um senhor canadiano que não conheço e que de certeza nem sonha a minha existência. No entanto, you can’t forget what you can’t forget como se me quisesse dizer qualquer coisa, pior dizendo-me muito, avisando-me dessa evidência impossível de contornar. Eu tão descansadinho, já quase pronto para sair de casa, a ver ao espelho se tudo bem e agora isto, só isto.

Tudo bem, you can’t forget what you can’t forget, não se fala mais nisso. Talvez seja mesmo verdade e se calhar ainda bem. A vida é mesmo assim e nada como sorrir dela mesmo,  torná-la divertida, cheia, intensa. Torná-la vida de facto. Por isso saí de casa e cá estou eu, neste pequeno desabafo, pronto para começar a juntar e a colar todos os cacos de mim mesmo. É que a implosão foi um sucesso. Realmente, you can’t forget what you can’t forget.
08
Mar07

Ao sabor do imprevisto.

Marco
Gosto quando um imprevisto decide romper com a banalidade e me surpreende com algo de diferente, dando assim outro sabor à minha receita diária, tantas vezes forçosamente repetida. Não precisa de ser grande nem espectacular, nada disso. O ingrediente fundamental é mesmo o seu conteúdo, a sua capacidade de me fazer passar momentos de boa disposição, com os minutos a passar rápido, tão rápido que impossível de dar por eles.

Ontem foi uma dessas noites... inesperadas. Não programada. Uma noite que simplesmente me aconteceu e rodeou de gente gira, bem disposta. O espaço também ele muito acolhedor e a refeição bem perto da excelência. Depois...foi rir. Só rir. Fosse a recordar tempos de universidade, a dizer piadas sem senso, a contar aventuras do arco da velha, tudo serviu para animar aquela gente. No entanto, o melhor ainda estaria para vir.

Já perto e ou mesmo depois da meia noite, veio a música ao vivo. Uma cara conhecida a tocar as canções de todos nós. Era vê-los a fazer coros, a bater palmas, a pedir músicas, a rir e a brincar. O tempo correu e depois corri eu de regresso a casa, para umas curtíssimas horas de sono que agora bem se notam nos meus olhos, pesados, a arderem-me pedindo cama cama cama. Estão com azar, porque ainda há muito trabalho para fazer. Vou-me a ele.
06
Mar07

O inventor.

Marco
Quem olhava para ele dificilmente se enganava. Só podia ser inventor. Os longos cabelos brancos, já secos da idade avançada – será que todos os inventores nascem já velhos?, a sua pele repleta de vincos e o seu olhar focado em coisa nenhuma. Ou em tudo ao mesmo tempo. Não se sabe. Ninguém sabe. Apenas ele, sonhador acordado, eterno questionador de tudo o que lhe era apresentado como facto.

O seu retiro era um amontoado de papeis toscamente rabiscados. Pilhas de livros velhos vindos sabe-se lá de onde. Um enorme estirador onde passava horas a experimentar as coisas mais inacreditáveis. Combinações impossíveis. A luz, essa, era tímida, pedindo licença para pular janela a dentro e espalhando-se devagar, insuficiente pelos espaços desarrumados. E o inventor, claro, mergulhado dentro do seu mundo.

A sua vida era solitária. Nada parecia interessar-lhe. Nem o sol radioso, nem o cantar dos pássaros, nem o rebentar das ondas do mar, nem o sorriso das crianças, nem as conversas de ocasião, nada. Apenas as suas invenções improváveis, imperfeitas. Refugiava-se nelas. Passava assim o seu tempo, numa busca permanente, incessante. Até ao dia em que saiu de casa manhã cedo, cabelo cortado e penteado, dando vivas a toda a gente que consigo se cruzava.

Tinha finalmente conseguido. Reinventara-se a si mesmo.
05
Mar07

Triste manhã.

Marco
Quando a luz da manhã me forçou a abrir os olhos, não encontrei nem a mesa de cabeceira, nem o candeeiro que acendo todos os dias. Não encontrei o móvel dos discos nem a cómoda da televisão. Não encontrei o armário onde guardo as minhas roupas, nem a varanda que me eleva sobre o mundo. Não encontrei os meus livros, não encontrei os meus trabalhos, não encontrei os meus gostos, não encontrei a minha motivação, não encontrei nada.

Levantei-me cercado pelo branco das paredes que me pareciam enormes, impossíveis de acabar. Percorri corredores, subi e desci escadas, branco, tudo branco. Não encontrei a sala, nem a casa de banho, nem a cozinha, não encontrei nada. Pior ainda, não encontrei a porta da rua, apenas branco, branco e mais branco. Regressei a correr ao meu quarto e nem este estava no seu sítio. Nada. Rigorosamente nada.

Sentei-me no chão, encostei-me a uma parede e tentei perceber o que se passava. Tentei acreditar que se tratava de um pesadelo e que rapidamente iria acordar. Foi então que percebi. Isso já tinha acontecido. Eu já tinha acordado. Simplesmente, em vez de o fazer no sítio de todos os dias, ontem, naquela manhã tristemente infinita, naquelas horas pesadas, naqueles minutos horríveis, eu acordei, bem no centro, da minha vida.
01
Mar07

Que alívio.

Marco
São diferentes as horas em que não conseguimos dormir. Como se se tratasse de uma porção de tempo dentro do qual não fosse suposto viver. O tempo da insónia. Como um túnel escuro, quase ou nada iluminado, em que caminhamos devagar, muito devagar, suspirando sempre pelo seu fim, vergados ao peso de cada minuto. São horas mais frias, desassossegadas, ansiosas. Desconfortáveis, pesadas, eternas.

Há um qualquer mistério que nos faz deslizar no tempo enquanto dormimos. Um género de corrente de ar que acelera os minutos e nos transporta para os profundezas do subconsciente. Imagens fugazes, visões do perfeito, do desejado, cenários construídos sem limites, sem impossíveis. Como um pedaço  de vontade tornada realidade, vivida de facto. Minutos, segundos fugidios, capazes de acelerar o mais vagaroso de todos os tempos.

O feitiço da noite. A confrontação entre uma realidade pesada, lenta e uma ilusão leve, meteórica. O espaço de todos os pensamentos e reflexões. Até que de manhã, novo dia, tempo de voltar a existir de facto. Como agora, manhã. Finalmente manhã. O sol brilhante, radioso. Foi longa a caminhada. Demorou-me os minutos, levou-me os pensamentos, consumiu-me a energia. Que alívio quando o despertador me tirou de dentro do túnel.

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