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Deep Silent Complete

"Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridiculas...e nas palavras mais belas... Transformo-me todo em palavras." - José Luís Peixoto

Deep Silent Complete

"Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridiculas...e nas palavras mais belas... Transformo-me todo em palavras." - José Luís Peixoto

31
Dez06

Parabéns, Zé!

Marco
Sabes Zé, acho que sou muito como tu. Tenho as coisas aqui dentro, todas elas, mas não sei bem porquê, tenho muita dificuldade em pô-las cá fora, para que todos vejam. Prefiro mantê-las cá dentro, seguras, bem preservadas. Quem nos conhece mesmo bem, sabe perfeitamente que somos assim e é assim que gostam de nós. Julgo que nem conseguiríamos ser de outra maneira. No entanto, essas coisas que guardamos – que guardas, são talvez o nosso maior tesouro.

A cada letra que escrevo, tenho vontade de chorar. Não de tristeza. Nada disso. Acho que são as tais coisas que guardo como tu a querer sair cá para fora. Às vezes acontece-nos. Queria estar aí, perto de ti e dizer-te parabéns, dizer-te és tudo aquilo que eu gostava de vir a ser, dizer-te és como o ar que eu respiro, dizer-te amo-te mais do que a minha própria vida, dizer-te desculpa por todas as vezes que te desiludo, dizer-te obrigado por seres o melhor pai do mundo, dizer-te não te preocupes que eu vou dar a volta por cima e sorrir de novo daquela maneira que só os dois sabemos fazer.

Acontece que sou muito como tu. Tenho as coisas aqui dentro, todas elas, mas não sei bem porquê, tenho muita dificuldade em pô-las cá fora, para que todos vejam. Se calhar se estivesse aí, perto de ti, dava-te o beijinho que sempre te dou quando fazes anos, dava-te aquele abraço apertado e guardava tudo o resto para mim, muito bem guardadinho. Por isso, hoje que não estou aí, digo-te que estás mesmo de parabéns por seres quem és. Um modelo de pai, de filho e também de avô. Tenho a certeza que o Tóino está lá em cima a sorrir, cheio de orgulho de ti.
29
Dez06

Adeus e obrigado.

Marco
Este é o último texto que escrevo este ano. Há um sabor que não distingo a atravessar as palavras que tenho para escrever. Que quero escrever. Há um misto de sentimentos a trespassar-me, como uma névoa densa, opaca. Não distingo onde acaba o sorriso que se me escapa e onde começam as lágrimas que parecem não querer secar. Há um travo a despedida. Um ano que termina. Um ciclo que se fecha. Um capítulo que chega ao seu ponto final.

O futuro é já amanhã, ou mesmo hoje, agora. É tempo de olhá-lo, encará-lo e correr atrás dele. É tempo de pôr mãos à obra e moldar o destino. Para trás fica aquilo que foi, mas que já não é nem voltará a ser. Lá à frente, está tudo o que será. À minha espera. É isso que vejo. É para isso que olho. Se olho... e como diz Pessoa: Sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura. Quero ser maior, vou tentar ser maior, por maiores que sejam as dificuldades.

Por fim, gostaria de escrever um enorme OBRIGADO a todas as pessoas que simpaticamente me leram e comentaram ao longo desta aventura feita das minhas aventuras e desventuras. Vocês são o sal deste blog. Para mim, cada texto só fica verdadeiramente terminado depois de lido e comentado. A todos desejo um feliz ano de 2007. Da minha parte, espero continuar a merecer cada um dos minutos que me dispensam. 
28
Dez06

Tempo que não é tempo.

Marco
A noite. Escura. Longe de casa. Dentro de casa. Longe e dentro. O silêncio. O som de ninguém mascarado de nada. O som do não som. A casa quieta, suspensa. O tempo, lento. O tempo com tempo para passar. Sem pressa. Ele, só. Só ele e ele. Na casa. Quieto como a casa. Longe de casa. Dentro de casa. Longe e dentro. Longe, pelo infinito dos sonhos. Dentro, no sofá à espera dela. O tempo, lento. Tempo com tempo para passar.

A porta. O som da campainha. Perto de casa. À porta de casa. O sobressalto. Os movimentos de alguém que espera alguém. O som do mundo que começa a girar dentro da casa. Rápido. Muito rápido. Um mundo que existe, inteiro, suspenso sobre a linha formada entre dois olhares que se cruzam para sempre. Num tempo que não é tempo, porque o tempo não é tempo quando estes dois olhares se cruzam, se focam, se prendem.

O tempo. O tempo que deixa de existir e porque deixa de existir, cai, unindo os dois momentos que aconteceram imediatamente antes e depois da sua queda. O antes e o depois, sem tempo para o durante. O durante que é tudo, mas porque é tudo não existe no tempo e não existindo no tempo passa rápido. Muito rápido. Tão rápido. A noite. Escura. Longe de casa. Dentro de casa. Longe e dentro. O silêncio. O som de ninguém mascarado de nada. O som do não som. O som da saudade.
27
Dez06

Certo dia, escreveu ele...

Marco
Pudesse eu ter o poder de transformar estas palavras em muito mais do que palavras e muito mais aconteceria do que apenas palavras que apesar de apenas palavras, são palavras sentidas, palavras cheias, palavras totais, palavras plenas, palavras vivas, palavras que escrevo do interior de mim mesmo mas que não posso controlar, palavras que escrevo, que sonho, que vivo sem viver, que vejo sem ver, que quero fazer acontecer sem poder fazer acontecer.

Pudesse eu escrever os dias, as horas, os minutos, um a um, depois de todos os outros que passaram, antes de todos os que estão para passar e escreveria sem parar o plano que me vai na alma, a vida que me corre nas veias fazendo-me sentir o que sinto a cada pulsar dentro do meu peito, tum tum, tum tum, este som, o som da tal vida, o som do que sinto, um nome, dois nomes, juntos, as suas letras, fundidas no eterno, todas elas, como um todo, escritas, palavras.

Pudesse eu ter o poder de transformar estas palavras em muito mais do que palavras e de repente já não palavras, já não só apenas palavras, mas actos, mas gestos, mas vida ou vidas, ou vidas feita vida, uma só, em comum, em paralelo, rumo ao infinito, escrevendo-se a cada minuto, um a um, depois de todos os outros que passaram, antes de todos os que estão para passar e que eu muito gostaria de passar existindo, em conjunto, contigo, em muito mais do que palavras. Apenas palavras.
26
Dez06

Recebi um sorriso.

Marco
Papel. Papel colorido, com este e aquele desenho. Papel esticado, dobrado nas suas pontas e preso nas suas juntas por pequenos pedaços de fita cola. Papel com a missão de encobrir para permitir descobrir o que nele se esconde. Papel rasgado, amachucado. Esquecido. Papel morto, inútil, amontoado a um canto. Escondido. Abandonado. Para sempre. Papel feito lixo, feito nada.

Prendas. Prendas de todo o género e feitio. Prendas compradas para agradar, para colmatar, ou simplesmente não falhar. Prendas que se transformaram no epicentro deste terramoto chamado Natal e cujas ondas de choque se propagam por todo o lado. Prendas hoje, muitas vezes esquecidas amanhã. Mas prendas hoje e por isso Natal e assim sorrisos e mais sorrisos e ainda bem que assim é.

Sorriso. Um sorriso. Um sorriso que não vinha embrulhado em nenhum papel colorido. Um sorriso aberto, vivo, capaz de atravessar a distância do mundo, capaz de furar betão, capaz de inundar todos os oceanos. O tal sorriso das covinhas. Um simples sorriso que se tornou na mais bela de todas as prendas. Valeu a pena esperar por ele. Valeu a pena furar a noite e ir ao seu encontro. Ainda agora o recordo. Parece que o estou a ver. Como era belo.
23
Dez06

Era um conto de Natal.

Marco
Nevava. Tinha de nevar. Era um conto de Natal e por isso tinha de nevar. Sem neve, poderia na mesma ser um conto, mas não de Natal. Por isso, nevava. E fazia frio. As pessoas andavam na rua apressadas, como que a não querer esperar mais um ano por outro Natal. As crianças sorriam ao mesmo tempo que aproveitavam para brincar com a neve que nevava e que permitia que este pudesse ser um conto de Natal.

A magia do Natal já não o tocava da mesma forma. Aquele encanto que outrora o envolvia tinha desaparecido, dando lugar a uma mera formalidade. Já nada esperava desta data. As razões, não as sabia ao certo. Mas a verdade é que desejava que a quadra passasse depressa e que os dias voltassem a ser dias normais, sem esta febre alucinante que a todos parecia contagiar. Estava frio. Nevava. E este era um conto de Natal.

Foi então que aconteceu. Naquele preciso momento. O som não o poderia enganar. Era real. Era a sua porta. Num instinto, levantou-se, correu para a janela e viu um fim de tarde coberto do branco da neve. Viu crianças a brincar e pessoas cheias de pressa. Correu para a porta de casa e abriu-a. Nunca se soube ao certo se foi magia que aconteceu, mas do outro lado, sorridente, de olhos cristalinos e um sorriso do tamanho do mundo que fazia covinhas, estava ela.

Disse – vim para ficar, para sempre, ao mesmo tempo que a sua fala fazia curiosos balões de fumo. Ele não disse nada. Não conseguiu. Abraçou-a com toda a sua força e puxou-a para dentro da sua casa, para dentro do seu mundo, para dentro da sua vida. E o Natal voltou a encantá-lo. Com ou sem frio. Com ou sem neve. Porque para ele, o Natal, o verdadeiro Natal era amor e o seu, tinha acabado finalmente de acontecer.
21
Dez06

Ser cúmplice.

Marco
Houve um dia em que ele jurou a si mesmo: vou escrever. Escrever tudo. Vou escrever a minha vida, o que sou, o que penso, o que me acontece e o que faço acontecer. Vou pegar numa folha de papel e eternizar-me em letras e palavras que me escrevem mais a mim do que eu a elas. Vou tornar-me história, transformar-me em memórias que assim jamais poderão ser esquecidas ou apagadas. Vou passar a existir em todos os dias do presente e do passado.

A partir desse momento, sempre que o sol se punha e os dias já mais não eram do que uma enorme sombra de si mesmos, sentava-se a uma mesa em silencio. Tentava lembrar-se do que acabara de viver, que episódios, que sentimentos, que peripécias. Passara a estar muito mais atento a si mesmo, como que registando tudo para depois tudo depositar naquelas que eram as suas palavras da sua vida. Literalmente.

Certa noite, ao chegar a casa, cansado depois de mais um dia de trabalho, sentou-se e começou a escrever. Queria escrever mais do que nunca. Queria escrever tudo o que sentia. Queria descrever-se cá fora como estava por dentro. Utilizou todas as palavras que sabia. Compôs o mais belo de todos os seus textos. Não pela beleza estética, mas por tudo o que significava para si. Quando acabou, suspirou, leu-se a si mesmo e sorriu. Dizia assim:

SER CÚMPLICE
Ser cúmplice...
Ser cúmplice é sorrir o mesmo sorriso
É chorar as mesmas lágrimas
É ver em conjunto
É sonhar a duplicar
Ser cúmplice...
Ser cúmplice é viver a partilhar
É olhar o mesmo luar
É sonhar o mesmo sonho
É escrever o mesmo conto
Ser cúmplice...
Ser cúmplice é falar sem falar
É fazer sem esperar
É amar, amar, amar
É gostar de simplesmente estar.
20
Dez06

Melodias silenciadas.

Marco
Todos os dias carrego comigo um cemitério que não me pesa nem assusta, repleto de pianos velhos e novos nas páginas de um livro que não escrevi, mas que gostava de ter escrito. Pelo talento, pela criatividade. Esse mérito é do José Luís Peixoto, um escritor que muito admiro por ter a capacidade de escrever aquilo que gostaria de ser capaz de escrever. Por dizer aquilo que eu gostaria de ser capaz de dizer, da maneira como eu gostaria de dizer.

É bom sinal quando trago um livro comigo para todo o lado. Quando aproveito todos os tempos mortos para os fazer viver com as histórias que fervilham página após página. Correr atrás das letras e das palavras com a urgência de um saber que ainda não sei. Julgo que esse é o verdadeiro feitiço dos livros e neste momento posso dizer que estou envolto por essa magia que se revela aos bocadinhos.

Ironicamente, hoje de manhã, quando li Cemitério de Pianos pela enésima vez, senti-me bastante próximo deste título. Imaginei um piano, vários pianos alojados numa sala escura, longe de todas as vistas e pior, imaginei a quantidade de belas melodias ali presas, por tocar, por existir, quem sabe para sempre. Condenadas talvez a nunca existirem. Mas belas com toda a certeza. Provavelmente, as mais belas de todas as melodias.
19
Dez06

Para ti, Rita.

Marco
Nunca te conheci muitas dúvidas e olha que te conheço bastante bem. Conheço-te desde que me conheço e por isso já te conheço há muito tempo, há tempo suficiente para poder dizer que não te conheço nem nunca te conheci muitas dúvidas. Julgo mesmo que não te conheço dúvida nenhuma e não tenho dúvida que não estou nada longe da verdade. Vives de certezas, das tuas certezas. Disso, tenho eu certeza, sem qualquer dúvida.

Eu sempre tive mais dúvidas e tu conheces-me bastante bem e sabes que é verdade, eu e as minhas dúvidas, tu e as tuas certezas. Eu com dúvidas das tuas certezas, tu com certezas das minhas dúvidas. Conhecemo-nos desde que nos conhecemos, desde que existimos. Sempre exististe na minha vida e eu sempre existi na tua. Não crescemos juntos, mas crescemos quase sempre juntos. Não vivemos juntos, mas vivemos quase sempre juntos.

Nunca te conheci muitas dúvidas e olha que te conheço bastante bem. Eu sempre tive mais dúvidas, tu sabes, mas olha que hoje, neste dia estúpido, não tenho dúvidas e tenho a certeza que tu também não tens dúvidas e por isso sem dúvida que é só um dia estúpido e amanhã que até pode ser depois de amanhã ou outro dia qualquer, vai voltar a estar tudo bem. Não tenhas dúvidas, que desta vez, eu também não. Tenho a certeza. Força Rita! 
18
Dez06

Os berlindes de vidro.

Marco
Os sonhos são como os berlindes de vidro que uma criança carrega no seu bolso. Coloridos a mil cores, todos diferentes entre si, mas de vidro e por isso frágeis. Capazes de caírem todos juntos no chão ao mesmo tempo e dispersarem-se cruelmente. Capazes de se esconderem nos sítios mais complicados e depois, difíceis de procurar. Podem passar-se horas, dias, meses até anos sem aparecerem.

As crianças têm muitos berlindes, sacos deles. Mas só carregam consigo aqueles que consideram mais importantes. Os que gostam mais ou que por alguma razão lhes são mais queridos. Muitas vezes exibem-nos com orgulho aos amigos mais chegados, outras vezes param durante instantes de tempo para os contemplar. Pegam neles, apontam-nos à luz e deleitam-se com a sua beleza infinita. E como são belos.

Ainda hoje gosto de coleccionar berlindes coloridos de vidro. Já por várias vezes se me romperam os bolsos e lá tive eu de ir à sua procura. Uns perderam-se para sempre, outros ficaram com pequenas falhas. No entanto, alguns permanecem intactos, belos em todo o seu esplendor. Gosto de os apontar à luz, de perder horas a contemplá-los. É para esses que vivo. Não quero perdê-los e por isso, se me permitem, agora vou guardá-los. 

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