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Deep Silent Complete

"Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridiculas...e nas palavras mais belas... Transformo-me todo em palavras." - José Luís Peixoto

Deep Silent Complete

"Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridiculas...e nas palavras mais belas... Transformo-me todo em palavras." - José Luís Peixoto

31
Out06

É preciso ter descaramento!

Marco
Escreve-te! Ordeno-te que te escrevas! Sozinho! Faz alguma coisa! Tens mais do que obrigação de saber como se faz! Já foram mais de cem as vezes que fiz isto por ti! Não tens desculpa! Escreve-te! Não sejas preguiçoso! Sabes que não é assim tão difícil! Pegas nas letras, ordena-as e constrói um texto como deve ser! Vá, não me faças esperar mais!

Então? Ainda nada? Não posso sequer acreditar de ainda nada! Nem uma frase com principio, meio e fim? Ok, meia frase? Nem isso? Uma ideia! Ao menos uma ideia, um conceito! Nada? Incrível! Gostava de saber o que andei aqui a fazer estes dias todos? Tanto latim gasto para nada! Hoje que te peço por especial favor que te escrevas sozinho… nada!

Aliás, sozinho deixaste-me tu a falar! Que falta de respeito! Eu aqui todos os dias, a puxar pela cabeça e hoje que sim senhor, admito, estou sem ideias, tu, nada! Nadinha! És um texto da onça! Já vi que não posso contar contigo para nada! Se não for eu a criar-te, a ordenar-te como deves ser, ninguém mais o fará! Nem mesmo tu por ti próprio! És incapaz de te fazeres sozinho! E eu hoje sou incapaz de te fazer!
30
Out06

Divagações.

Marco
Não gosto destes dias que resolvem encolher. Com que direito? Quando tudo parece ir ainda a meio, eis que chega a noite, alastrando-se pelas ruas, pelas casas, por mim mesmo. É uma noite carregada de Inverno. De frio. De chuva. Uma noite que apela ao recolhimento, ao aconchego, ao conforto. Uma noite que nos expulsa do dia, como se não houvesse mais nada para viver a partir de determinada hora.

Por mais que lhe fuja, ela acaba sempre por me vencer. Cerca-me e esmaga-me. Carrega-me de horas intermináveis de escuridão. Horas em que me lembro de tudo o que me ilumina. Horas de uma saudade avassaladora, de memórias presentes, aqui comigo, mesmo que longe, mesmo que distantes. Espero. Espero o novo dia. Como agora, aqui sentado, olho o relógio abusivamente atrasado. Nada resta numa noite que se anuncia longa. Nada resta. Nada.

Por hoje, por agora, nada mais tenho a dizer. Estou já mergulhado no amanhã  que ainda não chegou. Sim, estas frases são todas elas antes de este texto existir aqui. São todas ontem. O dia, melhor, a noite em que escrevi que tenho uma vontade colossal de reencontrar o teu sorriso, o teu abraço. De reencontrar o teu olhar e nele ver reflectido o fundo de mim mesmo. Quem sabe já hoje isso seja possível. Espero que sim. Espero esta noite. Espero este dia. Espero hoje. Espero.  
27
Out06

Uma noite com os Camera Obscura.

Marco
Não faltou quase nada. Não faltou a linda paisagem de Óbidos, não faltou a chuva durante quilómetros e quilómetros, não faltou a pressa pelo atraso, não faltou o sentido de orientação, não faltou a compra dos discos do costume, não faltou o nervoso miudinho da primeira vez, não faltou o então nunca mais começa?, não faltou a banda que me levou a Coimbra, não faltou a música que me levou a Coimbra, não faltaram os Camera Obscura.

Não faltou quase nada. Não faltou o encantamento, não faltou a magia, não faltou o arrepiar da pele, não faltou a emoção, não faltou o brilhozinho nos olhos, não faltou a empatia, não faltou o feitiço existente na voz da Tracyanne Campbell, não faltou a melancolia, não faltou o encanto, não faltou a rendição total, não faltou o bater de palmas incontido, não faltou o achar que podiam ter tocado mais tempo, não faltou a compra da t-shirt para recordação.

Não faltou quase nada. Não faltou a simpatia da banda, não faltou a fotografia de família comigo, não faltou nem um nem dois dedos de conversa, não faltou o atraso na hora do regresso, não faltou solidão por essa estrada fora, não faltou o céu escuro, estrelado, mágico, lindo, não faltou novamente a pressa mas agora pelo sono, não faltou o alivio pela chegada, não faltou o deitar embalado por tamanha aventura. Não faltou quase nada. Ou faltou quase tudo. Faltaste tu.
26
Out06

Hoje é assim...

Marco
Hoje apetecia-me nem sequer escrever. Apetecia-me nem sequer estar aqui. Apetecia-me estar longe. Longe de tudo. Longe de todos. Apetecia-me mesmo. Apetecia-me acordar, olhar o dia e sorrir. Apetecia-me vivê-lo totalmente, sem me sentir assim como me sinto hoje. Apetecia-me tudo isto e no entanto nada disto é possível. Nada parece ser possível.

Assim, aqui estou. Não por sacrifício, não por obrigação. Mas estou apenas. Nada mais. Limito-me a estar. Apenas eu. O eu visível, aparente. O eu de quem esperam o que sempre esperam e que hoje, nada tem para dar. Nada. Nada porque hoje, nada. O meu eu invisível, aquele que faz de mim o que sou, foi-se. Não sei para onde nem por quanto tempo. Mas foi-se.

Está longe. Muito longe. Está a pensar, a pensar. Está a pensar-se. A rever-se. A analisar-se. A decidir-se. Julgo que na verdade, está à procura da melhor forma de regressar. De regressar a si próprio. Para ser de novo um eu total. Um eu cheio de si mesmo. Não apenas um eu aparente mas no entanto vazio. Julgo que é isso. E por isso, hoje apetecia-me nem sequer escrever.
25
Out06

O texto de uma vida.

Marco
Imaginem este texto sem algumas das suas letras. Não p deria ser con iderado comp eto. Ficar a mui o estra ho. As pa avras per eriam o seu ver adeiro sign ficado, as fr ses parc riam meio v zias. Desp das. Tri tes. Se ia pre iso um esf rço gi ante pa a encont ar um sent do para a sua exist ncia. Para o justif car. Para fa er dele um t do.

O mesmo se passa nas nossas vidas. Caminhamos diariamente com um rumo pré-definido, mas sem saber muito bem se o atingiremos. E pelo caminho, vamos sentido a necessidade de nos sentirmos completos. De procurarmos ou termos algo que nos justifique. Que torne a nossa existência também ela completa. Cheia. Feliz. Não apenas existência. Mas existência feliz. Plena!

Para que isso seja possível, temos de procurar. Ou pelo menos identificar. Saber identificar. Saber perceber quais as letrinhas que faltam à nossa vida para que também nós sejamos palavras, frases, textos repletos de significado e sentido. Para que sejamos os mais belos poemas. Cabe-nos a nós escrever, apagar, voltar a escrever. Escrever escrever até ficar pronto. O texto. O texto de uma vida.
24
Out06

Ver no escuro.

Marco
Já vai longa a noite. A minha, pelo menos. Escrevo sem saber se estou a meio de um trabalho, se perto do fim. As ideias flutuam. A musica com elas, leve, angelical, perfeita. Vinda da Islândia. Frágil. Inocente. Doce. Uma descoberta recente que, segundo li, já não é tão recente quanto isso. Chamam-se Múm e recomendo vivamente a quem ainda não conhece. Vale a pena descobrir e viajar por estas paisagens sonoras. Que bonitas paisagens.

Gosto de escrever na calada da noite. Não que seja especialmente nocturno, que nem sou. Gosto do dia, gosto do sol, gosto do azul do céu. Fascina-me o azul do céu. Gosto de observar as pessoas nas suas rotinas de todos os dias. Gosto de imaginar que atrás de cada uma, se esconde uma história feita de outras tantas histórias onde outras tantas pessoas existem também elas com a sua história feita de histórias e de pessoas e assim sucessivamente sem parar sem parar.

Mas a noite tem uma paz que não existe no dia. Quando o escuro me cerca, o silencio rebenta e sou como que invadido por um tsunami de reflexões. Faz sentido pensar na vida durante a noite. Somos só nós e ela, a vida. Sem interferências. Podemos questioná-la. Podemos ouvi-la e até interpelá-la. Podemos procurar as respostas que se escondem no meio do turbilhão diário. Irónico. O escuro da noite ilumina o pensamento. Faz com que vejamos mais à frente. Com mais nitidez. E agora, que a noite já vai longa, é tudo tão claro para mim.
23
Out06

Domingo cheio.

Marco
Eram mais ou menos três da tarde de hoje. Chovia a cântaros. Chovia com urgência. Chovia o mundo inteiro. Chovia toda a chuva que podia chover quando de repente, um raio de sol rompeu pelo cinzento quase negro do céu e iluminou uma tarde que parecia condenada à tristeza. Adeus tristeza. Adeus nostalgia. Adeus. Olá. Que saudades. Quantas saudades. Malvado tempo, que corre tão lento quando longe e tão rápido sempre que por perto.

Não sei se voltou a chover. Não sei se fez sol. Não sei se era dia ou noite. Só sei que mergulhei num imenso mar de plenitude, onde cada gesto é total. Foi total. E único. De uma cumplicidade absoluta. E assim, como que por magia, um dia que parecia destinado a ser para esquecer, transforma-se e em duas horas passa a ser inesquecível. São as voltas da vida, sempre tão imprevisíveis. Sempre tão fascinantes.

Mas porque o tempo só é tempo porque passa e porque passou, foi tempo de ir embora. E logo as saudades! Foi tempo de mais uma visita. Foi tempo de voltar a chorar esse sofrimento que parece todos os dias conhecer novos limites. No entanto, vi-te em paz. Uma paz que me deu paz. Gostei de te olhar nos olhos. Gostei de saber que me viste. Gostei de te ouvir dizer o meu nome. Gostei de te dar a mão. Gostei de te beijar a testa. Gostei de te fazer uns quantos carinhos. E caramba, como gostava de ter resposta para a pergunta com que te despediste de mim. E agora, Marco, o que é que eu faço com a minha vida?
20
Out06

A luz dos dias.

Marco
Acordo. É mais um dia. Há uma luz, tímida, quase escura que busca a claridade de sim mesma. São assim os dias no seu começo, buscam-se a sim mesmos. Descobrem-se. Erguem-se. Passam a existir do nada que foi o escuro que foi a noite que por sua vez só o foi depois do tudo que foi o dia anterior. Ciclos que se cumprem. Vidas que se vivem. Anos que se passam. O tempo que é tempo por existir e por fazer existir quem passa por ele. Como um nevoeiro que dura toda a existência.

Sorrio. É mais um dia. Há uma luz, forte, brilhante, total. Há luz dentro da luz que existe antes, dentro e depois de mim. Existo mais uma vez. Sou de novo eu. Lembro-me de ontem, lembro-me de ti. Olho. Penso. Penso que existo como ontem. Ontem, onde eras, onde estavas, onde foste, onde fomos. Hoje é tempo de hoje. E a luz, e o dia, mais um dia. São assim os dias cheios. Enchem-nos de significados, de sentidos, de adjectivos. Enchem-nos de vontade de mergulhar no tempo que nos aguarda.

Escrevo. Foi mais um dia. Não há nenhuma luz. Há o nada disfarçado de escuro. De noite. De vazio. Há o nada que existe depois do que existiu quando tudo era luz disfarçada de dia. Escrevo agora. Depois de tudo o que foi. Do que vi. Do que vivi. E vivi. E sorri. É o fim deste ciclo que se cumpriu. Sou capaz de dizer que vivi. Sou capaz de dizer que este pedaço de texto é o meu pedaço de mim depois deste pedaço de vida chamado hoje. É tempo do ponto final. É tempo de um novo parágrafo. Amanhã.

Acordo…
19
Out06

Caixinha de ferramentas.

Marco
Quantas vezes as ferramentas para a felicidade não se disfarçam de coisas banais? Fundem-se no meio de nós, percorrem os mesmos caminhos, cruzam-se connosco, chamam-nos, gritam-nos e nós, nada. Cegos. Demasiado ocupados nessa busca interminável, a identificar as nossas pequenas e grandes infelicidades, a queixarmo-nos delas, lamentado esse terrível azar que não pára de nos prosseguir. Malvado destino.

A vida não nos favorece, é certo. Exige de tal maneira de nós que muitas vezes não resta nem sequer tempo para existirmos. As tais personagens que defendo que somos. E somos. E temos de ser. E temos de alimentar. Mas muitas vezes, tantas vezes, nada. Vivemos em função de um relógio que não pára nunca, que nos aperta, que nos esmaga. Que nos exige e exige. Que nos empurra para onde não queremos estar. Tudo, em função da tal “qualidade de vida”.

Qualidade de vida. Belo conceito. Trabalhar tudo, viver nada. A carreira. O status. O ordenado. A promoção. Trabalhar ainda mais. Viver ainda menos. Tudo por ela. Pela qualidade de vida que virá um dia. E virá. Se esse dia chegar. E pelo caminho, esquecemos as tais ferramentas, que nos chamam, que nos gritam. E claro, sentimo-nos infelizes. Eu não quero isso. Já encontrei as minhas ferramentas e vos garanto, vou pôr mãos à obra. Posso não conseguir. Mas não posso não tentar. 
18
Out06

Um exemplo de força.

Marco
E o cerco vai apertando. Sem dó nem piedade. Que imagem, a de hoje! Que sofrimento. Que vida. Que droga. És herói na forma como lutas. Não queres que te vençam. Por maior que seja essa força, implacável, negra, fria. E lutas. Não queres que te vençam. E nós, ali. Nós aqui. Sempre ao teu lado. Para tudo. Para sempre. É tanta a vida, que não se esgota nunca. Há uma história, mil histórias. Havemos nós todos. Todos nós somos pedaços ti. E tu, feito de todos nós.

Desconfio que o sofrimento deva ser cego e surdo. Nota-se que nunca te viu nem que nunca te ouviu. Não te conhece. Só pode. Que cruel. Eu sei que não existem finais perfeitos, apenas finais. Mas depois de tantos anos a fintar o destino, logo este tinha de te rasteirar a ti. Caramba, sempre jogaste limpo com ele, e ele não o fez contigo. Veio pela calada, sem avisar, cobardemente. Apanhou-te distraído. Apanhou-te. Apanhou-nos.

Que imagem a de hoje. Violenta. Um soco no estômago, difícil de digerir. Que imagem. Que sofrimento. Que dor. Querem vencer-te e por isso, antes de tudo mais, faço já questão de te dizer que jamais te vencerão. Jamais. Enquanto cada um de nós existir serás sempre eterno. Serás sempre invencível. A tua força será sempre um exemplo. Tal como a tua vida cheia de vidas. Tal como a tua história cheia de histórias. És herói na forma como lutas. O nosso herói.

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