31
Ago06
Hoje, pensando melhor...
Marco
Em miúdo encarava-os com desconfiança. Julgo que me assustavam. Não sei se era a sua imponência, se a minha preguiça. O que sei é que lhes virava costas, fingindo não existirem ou pelo menos fingindo não os conhecer. Dissessem eles o que dissessem, inventassem as histórias que inventassem, a mim, não me convenciam e portanto de mim, nem sequer um olhar. Nada.Para mim, um livro era um absurdo de páginas rigorosamente iguais. Não podia haver diferenças entre elas. Todas brancas, todas carregadas de palavras. Sempre as mesmas palavras, apenas numa ordem diferente. Por isso, música. Por isso, computador. Por isso, miúdas. Por isso, praia. Por isso, televisão. Por isso, futeboladas. Por isso, cinema. Por isso, tudo menos livros.
Hoje começo a desconfiar que me precipitei na minha avaliação infantil. Hoje os livros acompanham-me, contam-me histórias que desconheço. Fazem-me sair da minha vida para ir espreitar segredos, viver aventuras, beber inspiração. Sim, julgo que são eles os principais responsáveis por este espaço de mim mesmo. Hoje já não desconfio deles. Nem me assusto. Assim como espero não assustar ninguém.