30
Ago06
Atrasado, mas a tempo.
Marco
Hoje atrasei-me. A esta hora as letras já costumam estar todas organizadas, umas ao lado das outras, arrumadinhas no seu espaço, na sua frase, no seu parágrafo. Umas repetem-se e julgo mesmo que no fim de cada texto, competem entre si para ver qual aparece mais vezes. Contas feitas e contingências da nossa língua, as vogais acabam sempre por se consagrar como vencedoras.A verdade é que hoje me atrasei. Não, não foi o despertador que adormeceu nem sequer eu que o ignorei. Nada disso. Eu até me portei bem, levantei-me a horas, arrumei as coisinhas, voei para o emprego onde luto arduamente com as ideias, para que venham giras, inovadoras, criativas, vendedoras. Onde luto contra timings que insistem em cercar-me, sufocando-me sufocando-me.
Eu hoje atrasei-me aqui mesmo. Ou melhor, não me atrasei. À mesma hora do costume fiz aquilo que sempre faço. Espalhei as letras todas, qual puzzle. Escolhi umas, depois outras e outras. Estas não, aquelas sim. Não, afinal não. Voltei a espalhar. Voltei a escolher. A espalhar. A escolher. E nada. Até que, de repente, um H, um O, um J, um E, espaço, um A, um T, um R, um A, um S, um E, um I, um -, um M, um E. Sim, pode ser por aqui. Vamos a isso.