04
Fev08
A meio das ideias.
Marco
As vozes juntam-se numa afinação que tenta envolver-me como envolvem os abraços mais apertados, aqueles onde o número dois se transforma em número um enquanto eu me afasto dentro do meu silêncio mal disfarçado com um sorriso desenhado à pressa e fujo para longe, para esse lugar onde nenhuma pergunta, nenhuma pessoa, apenas eu os pensamentos que me tomam de assalto, fazendo contas a uma idade que parece querer enganar-me, na qual nem me reconheço, tentando ajustar-me a ela tal como faço em frente ao espelho sempre que por obrigação tenho lutar contra o nó de uma gravata.Lido mal com nós de gravata, cortam-me o ar, sufocam-me, prendem-me, disfarçam-me do que não sou e por isso evito-os da mesma maneira que evito as contas que isto da matemática nunca foi o meu forte, sempre abominei raízes quadradas, nunca entendi trigonometrias e sinceramente, já não acredito em fórmulas resolventes por isso toca de acordar e regressar às vozes que se afinam e me abraçam, sorrisos enormes de verdade, olhares brilhantes que me fazem lembrar jóias preciosas de valor impossível onde me fixo e acredito que sou feliz por completo, sem que nada nem ninguém me possa convencer do contrário.
Penso de repente: sou um pedaço de texto por acabar. Sou a luta entre as frases e as ideias, sou todos os erros já escritos e sou o resto da folha branca, sou aquilo que quiser escrever, que conseguir escrever, sou as palavras todas que conheço, sou aquilo que fizer delas, sou estes nomes que me rodeiam, sou a voz deles que me envolve, sou um que é dois, que são todos, sou simplesmente assim, sou eu agora, aqui a fazer contas de cabeça enquanto faço e desfaço este nó que é um grande trinta e um, querendo enganar-me, onde nem me reconheço e por isso peço desculpa, mas vou desistir de pensar muito mais no que escrever e simplesmente, viver.