28
Set07
O aroma da vida.
Marco
Ontem haviam três clientes. Colados na porta da funerária, anunciando que morreram. A curiosidade detinha os que passavam e levava-me às perguntas sem resposta, sempre sem resposta. Depois o trabalho e o esquecimento com os problemas do costume, texto para aqui, frase para ali, mais um texto, outro e outro. Clientes da morte, na loja da morte. Os prados do céu, nome de uma música que escuto e me relembra aquelas três pessoas que nunca conheci, que partiram para um mundo melhor, distante, longínquo, eterno.As pessoas vivem em função das suas eternidades. Assim, sem mais nem menos, nas palavras cruas de António Lobo Antunes. Que verdade! É verdade que aos trinta, os sessenta são a minha eternidade, assim como o é um minuto que seja na vida de um condenado. A finitude inquieta que se farta. Incomoda. É como um desmancha prazeres, um aviso só para chatear. Quero esquecer-me, fechar-me num trabalho para não sentir esse desconforto de alma. Impossível. Há uma frase que não me sai da cabeça.
“Tinha a morte dentro de mim. E é horrível estar grávido da morte”. Mais uma verdade desse génio das palavras. Que verdade! Gosto das pessoas que vêem de maneira diferente aquilo que todos vemos por igual. Gosto de metáforas. Afinal, é esse um dos grande segredos a vida. Aprender a apreciá-la, tal como se faz com o vinho. Sim, que bom que era se todos fossemos enólogos da vida! Tenho a certeza que no dia em que estivéssemos colados a uma qualquer porta, nos olhariam com saudade e um secreto sorriso de admiração.