20
Set07
O beijo.
Marco
O beijo não é um beijo. É o beijo. Não se dá, nem troca. Acontece. Não se repete, não se recria. É um instante desprovido de tempo e espaço, é um vazio completo, uma explosão, uma implosão. Acontece. É a fina distancia que separa o nada do tudo, a derradeira camada de consciência, o passo do eu para o nós, um só, ligados para sempre mesmo que por um ínfimo sopro de segundos fugidios. O beijo é o beijo. Não um beijo. Acontece como os cometas e como eles, foge para sempre, escondendo-se do mundo, para não mais voltar.Dentro do beijo e não de um beijo, existe um terramoto devastador, existe a vida inteira, o passado, o futuro, sem tempo, parados para sempre. Acontece. Não se dá, nem troca. O beijo é o beijo. É uma jura eterna, sagrada, é toda a palavra certeza, toda a palavra felicidade, toda a palavra plenitude. No beijo, nada nos pertence, nada é nosso, somos despejados, ficamos vazios até que cheios, repletos, totais, infinitos, nessa partilha inexplicável que não acaba nunca, gravada num único toque que para sempre sempre.
O beijo não é um beijo. É o beijo. Não se encontra, nem se partilha. Acontece. É um desígnio, um acaso do acaso que acaso nenhum. Não se planeia, não se imagina. Sente-se. Brota. Rebenta. Sim, o beijo explode-nos na alma. Devasta-a, enche-a. O beijo transborda-nos, leva-nos ao fim do mundo e para lá dele, a esse sítio secreto onde por certo se escondem todos os cometas. O beijo consome-nos, gasta-nos, leva-nos aos poucos. Acontece. É a soma de todas as palavras, o depósito de todas as esperanças. O beijo não é um beijo. É o beijo.